sábado, 12 de março de 2011

África


Manuel Castells: “É só o começo ...”
Manuel Castells entrevistado por Jordi Rovira, Universitad Oberta de Catalunya

Os meios de comunicação passaram semanas centrando sua atenção na Tunísia no Egito. As insurreições populares que se desenvolveram após o sacrifício do jovem tunisiano Mohamed Bouazizi, terminaram em poucos dias com a ditadura de Bem Ali e na sequência, como peças enfileiradas de dominó, com a “presidência” de Hosni Mubarack. Abriram-se processos democráticos em ambos os países. Manifestantes também saem às ruas árabes na Líbia, Iêmen, Argélia, Jordânia, Bahrain e Omã.
Em todos esses processos, as novas tecnologias jogam um papel chave primordial — em especial, as redes sociais, que permitem superar a censura. Ante esse desfecho histórico, MANUEL CASTELLS, catedrático sociólogo e diretor do Instituto Interdisciplinar sobre Internet, na Universitat Oberta de Catalunya, aprofunda a reflexão sob o que se passa e oferece chaves para entender um movimento cidadão que tira o máximo proveito dos novos canais de comunicação ao seu alcance.

ENTREVISTA
[Jordi Rovira] Os movimentos sociais espontâneos na Tunísia e Egito pegaram desprevenidos os analistas políticos. Como sociólogo e estudioso da Comunicação, você foi surpreendido pela ação da sociedade-rede destes países, em sua mobilização?

[M. Castells] Na verdade não. No meu livro Comunicação e Poder, dediquei muitas paginas para explicar, a partir de uma base empírica, como a transformação das tecnologias de comunicação cria novas possibilidades para a auto-organização e a auto-mobilização da sociedade, superando as barreiras da censura e repressão impostas pelo Estado. Claro que não depende apenas da tecnologia. A internet é uma condição necessária, mas não suficiente.As raízes da rebelião estão na exploração, opressão e humilhação. Entretanto, a possibilidade de rebelar-se sem ser esmagado de imediato dependeu da densidade e rapidez da mobilização e isto relaciona se com a capacidade criada pelas tecnologias do que chamei de “auto-comunicação de massas”.

Poderíamos considerar estas insurreições populares um novo ponto de inflexão na história e evolução da internet? Ou teríamos que analisá-las como conseqüência lógica, ainda de grande envergadura, da implantação da rede no mundo?

As insurreições populares no mundo árabe são um ponto de inflexão na história social e política da humanidade. E talvez a mais importante das muitas transformações que a internet induziu e facilitou, em todos os âmbitos da vida, sociedade, economia e cultura. Estamos apenas começando, porque o movimento se acelera, embora a internet seja uma tecnologia antiga, implantada pela primeira vez em 1969.

A juventude egípcia desempenhou um papel chave nas insurreições populares, graças ao uso das novas tecnologias. No entanto, segundo os cálculos de Issandr El Amrani, analista político independente no Cairo, apenas uma pequena parte da população egípcia dispõem de acesso a internet. Pensa que esta situação pode criar uma brecha – usando suas próprias palavras, entre “conectados” e “desconectados” – ainda maior que a que se da nos países desenvolvidos?

O dado já esta antiquado. De acordo com uma pesquisa recente (2010), da empresa informação Ovum, cerca de 40% dos egípcios maiores de 16 anos estão conectados à internet — se levarmos em conta não apenas as ligações domiciliares, mas também os cibercafés e os centros de estudo. Entre os jovens urbanos, as taxas chegam a 70%.Além disso, segundo dados recentes, 80% da população adulta urbana esta conectada por celulares. E de qualquer maneira, estamos falando de um país com 80 milhões de habitantes. Ainda que apenas um quarto deles estivessem conectados, já poderia haver milhões de pessoas nas ruas. Nem todo o Egito se manifestou, mas uma número de cidadãos suficiente para que se sentissem unidos, e pudessem derrotar o ditador.A história da brecha digital em termos de acesso é velha, falsa hoje em dia e rabugenta. Parte de uma predisposição ideológica de certos intelectuais interessados em minimizar a importância da internet. Há 2 bilhões de internautas no planeta, bilhões de usuários de celulares. Os pobres também têm telefones móveis e existem ainda outras formas de acessar a internet. A verdadeira diferença se dá na banda e na qualidade de conexão, não no acesso em si, que está se difundindo com rapidez maior que qualquer outra tecnologia na história.

Até que ponto o poder dispõe de ferramentas necessárias para sufocar as insurreições promovidas desde a rede?

Não as tem. No Egito, inclusive, tentaram desconectar toda a rede e não conseguiram. Houve mil formas, incluindo conexões fixas de telefone a numero no exterior, que transformavam automaticamente as mensagens em twetts e fax no país. E o custo econômico e funcional da desconexão da internet é tão alta que tiveram que restaurá-la rapidamente.Hoje em dia, um apagão da rede é como um elétrico. Bem Ali não caii tão rápido, houve um mês de manifestações e massacres. O Irã não pode se desconectar a rede: os manifestantes estiveram sempre comunicando-se e expondo suas ações em vídeos no Youtube. A diferença é que ali, politicamente, o regime teve força para reprimir selvagemente sem que interviesse o exército. Porém as sementes da rebelião estão plantadas e os jovens iranianos, 70% da população, estão agora maciçamente contra o regime. É questão de tempo.

A mobilização popular através dos meios digitais criou heróis da cibernéticos no Egito — como Weal Ghonim, o jovem executivo do Google. Que papel podem desempenhar esses novos lideres no futuro de seus países?

O importante das “wikirrevoluções” (as que se auto-geram e se auto-organizam) é que as lideranças não contam, são puros símbolos.Símbolos que não mandam nada, pois ninguém os obedeceria, eles tampouco tentariam impor-se. Pode ser que, uma vez institucionalizada, a revolução coopte se algumas destas pessoas como símbolos de mudanças — ainda que eu duvide muito que Ghonim queira ser político. Cohn Bendit era também um símbolo, não um líder. Foi estudante e amigo meu em 68, ele era um autêntico anarquista: Rechaçava as decisões dos líderes e utilizava seu carisma (foi o primeiro a ser reprimido) para ajudar a mobilização espontânea.Walesa foi diferente, um vaticanista do aparato sindical. Por isso, tornou-se político rapidamente. Cohn Bendit tardou muito mais e ainda assim é, fundamentalmente um verde, que mantém valores de respeito às origens dos movimentos sociais.

A aliança entre meios de comunicação convencional e novas tecnologias é o caminho a seguir no futuro, para enfrentar com êxito os grandes desafios?

Os grande meios de comunicação não têm escolha. Ou aliam-se com a internet e com o jornalismo cidadão, ou irão se marginalizando e tornando-se economicamente insustentáveis. Mas hoje, essa aliança ainda é decisiva para a mudança social. Sem Al Jazeera não teria havido revolução na Tunísia.

Em um artigo intitulado “Comunicação e Revolução”, você recordou que em 5 de fevereiro a China havia proibido a palavra Egito na Internet. Acredita que existem condições para que possa ocorrer, no gigante asiático, um movimento popular parecido com o que esta percorrendo o mundo árabe?

Não, porque 72% do chineses apoiam seu governo. A classe média urbana, sobretudo os jovens, estão muito ocupados enriquecendo-se. Os verdadeiros problemas do campesinato e operários — ou seja, os verdadeiros problemas sociais da China — encontram se muito longe. O governo resguarda-se demais, porque a censura antagoniza muita gente que não está realmente contra o regime. Na China, a democracia não é, hoje, um problema para a maioria das pessoas, diferente do que ocorria na Tunísia e no Egito.

Esse novo tipo de comunicação, globalizada, atomizada e que se nutre se da colaboração de milhões de usuários, pode chegar a transformar nossa maneira de entender a comunicação interpessoal? Ou é apenas uma ferramenta potente a mais, à nossa disposição?

Já tranformou. Ninguém que esta inserido diariamente nas rede sociais (este é o caso de 700 dos 1,2 milhões de usuários) segue sendo a mesma pessoa. Mas não é um mundo exotérico: há uma inter-relação online/off-line.Como esta comunicação mudou, e muda a cada dia, é uma questão que se deve responder por meio de investigação acadêmica, não através de especialistas em fofocas. E por isso empreendemos o Projeto Internet Catalunha na UOC.

Podemos dizer que os ciber-ataques serão a guerra do futuro?

Na realidade, esta guerra já faz parte do presente. Os Estados Unidos consideram prioritária a ciberguerra. Destinaram a este tema um orçamento dez vezes maior que todos os demais países juntos. Na Espanha, as Forças Armadas também estão se equipando rapidamente na mesma direção. A internet é o espaço do poder e da felicidade, da paz e da guerra.É o espaço social do nosso mundo, um lugar hibrido, construído na interface entre a experiência direta e a mediada pela comunicação, e sobretudo, pela comunicação na internet.Tradução: Cauê Seigne Ameni

FONTE:
http://www.outraspalavras.net/2011/03/01/castells-sobre-internet-e-insurreicao-e-so-o-comeco/ [04/03/2011]

quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma definição de ...

1. GEOGRAFIA – A Geografia é uma ciência que busca entender e explicar as relações das sociedades (e destas entre si) no processo histórico e social de apropriação [palavra importante que significa “tornar próprio ou tomar para si”] da natureza. Ao apropriar-se da natureza a humanidade cria territórios e transforma o ambiente natural, adequando-o às suas necessidades, produzindo aquilo que chamamos de espaço geográfico. Assim, sendo o espaço geográfico um espaço que é apropriado pelo Homem, resulta deste fato a criação não apenas de territórios, mas de paisagens (artificiais) específicas. Assim a Geografia interessa-se especialmente pelo espaço geográfico.


2. ESPAÇO GEOGRÁFICO – É um espaço humanizado, transformado pelo Homem, no qual coexistem elementos naturais e artificiais e onde se dão relações sociais e econômicas que afetam o meio natural. Note-se que, alterado o meio natural (a natureza), existem conseqüências que acabam por interferir na vida humana. (Um exemplo atual é o chamado “aquecimento global”.) Assim o espaço geográfico é dito um espaço híbrido, natural, artificial, social e econômico ao mesmo tempo. Entender como ocorrem historicamente (ao longo do tempo) essas transformações do meio natural (da Natureza) e quais são as consequências desse fato para o Homem constitui um dos objetivos da Geografia. Entender ou pensar o espaço geográfico (ou simplesmente o “espaço”) supõe considerar um campo de interrelações entre a NATUREZA [o relevo, o clima, a vegetação, os recursos naturais ...], a SOCIEDADE [hoje, dos diferentes países] e a ECONOMIA [o trabalho, as atividades econômicas, o uso dos recursos naturais e o capitalismo].

3. PAISAGEM – É o espaço que pode ser captado pela visão, sendo formada por formas e objetos. Na verdade a paisagem é um conjunto de formas que, num dado momento, expressam as relações do homem com a natureza e, claro, da(s) sociedade(s) com aquele espaço ou lugar. Paisagem e espaço geográfico não são sinônimos. A paisagem é um conjunto de formas e objetos (naturais [como uma floresta parcialmente desmatada] ou artificiais [uma cidade ou uma plantação de soja]) resultantes das ações humanas sobre o espaço. A paisagem é o visível, são as formas que constituem um lugar. O espaço geográfico são as formas mais as ações humanas (o movimento, a vida) que ocorrem naquela paisagem.


4. TERRITÓRIO – No sentido social, econômico e geográfico, é um espaço delimitado e apropriado por um grupo social e sobre o qual esse grupo exerce algum tipo de poder ou controle. Os territórios são espaços delimitados com os quais um grupo social (uma sociedade, uma etnia) mantém relações de poder e controle, mas também relações de afetividade e identidade (uma identificação com aquele espaço específico). Na síntese, é um espaço sobre o qual alguém (uma pessoa ou um grupo) tem poder. Assim, analisar um território significa pensar não apenas os seus limites, mas: “o que contém aquele território [recursos naturais e humanos]?” e “quem domina ou influência quem, e como, naquele território?”.


5. LUGAR – Uma definição de lugar é a deste como o espaço onde se dão as relações sociais e econômicas cotidianas e rotineiras. Trata-se de um local definido pela subjetividade (por questões de cunho pessoal e particular) e pela identificação (ou identidade) com aquele espaço (então, um lugar), como, por exemplo, o país, o estado, a cidade, o bairro ou a rua em que nascemos ou moramos.


6. REGIÃO – Região é um espaço delimitado a partir de critérios (características) que se definem subjetivamente. Estes critérios podem ser os mais diversos, como o idioma, a religiosidade ou mesmo alguma característica natural. Assim podemos regionalizar a África pelo critério religioso, identificando no norte do continente uma “região islâmica” ou, no Brasil, uma região amazônica, caracterizada pela presença da floresta Amazônica. De certo modo, determinar uma região (regionalizar) significa identificar uma qualidade ou característica que é predominante em um determinado espaço, que então é delimitado, “criando” uma região.


7. ESTADO-NAÇÃO – Esta expressão binomial (“que une dois termos”) geralmente é referida simplesmente como Estado (com “E” maiúsculo) ou ainda como Estado Nacional (então sem hífen). Os Estados-Nações são uma forma de organização social, política e econômica de um território e que surgiu a partir da Europa entre os séculos XV e XVI. No entanto os Estados-Nações somente se tornaram a forma dominante de organização do espaço geográfico no século XIX (anos 1800 em diante). Os primeiros Estados-Nações merecedores do termo foram Portugal, Reino Unido, França e Estados Unidos. Estruturalmente o Estado-Nação é formado por um território, um governo centralizado e uma população. A parte da população nascida naquele território estatal é denominada de Nação. Do termo Nação deriva o conceito de “nacionalidade”, que significa pertencer a uma nação. Nacionalidade, então, tem o sentido de uma identidade específica, ligada a uma história e a um conjunto de valores próprios de um grupo social. Resumidamente, ao falarmos em Estado, estamos nos referindo à organização política de um território e ao falarmos em Nação estamos nos referindo à identidade nacional de um grupo de pessoas que se reconhecem e dividem uma mesma história. Assim, cabe lembrar que os Estados podem conter uma única Nação ou várias Nações (quando então são denominados de Estados multinacionais ou multi-étnicos). O Reino Unido da Grã-Bretanha é um destes casos. O Estado britânico é composto por quatro nacionalidades: ingleses na Inglaterra, escoceses na Escócia, galeses no País de Gales e irlandeses na Irlanda do Norte; o que difere este país do Brasil ou do Uruguai, onde todos são brasileiros ou uruguaios. Por fim devemos ressaltar que como forma de organização política de um território os Estados (como o Brasil) geralmente adotam um organização espacial composta por diferentes unidades: o estado (como o Rio Grande do Sul), os municípios (como Porto Alegre), que são, no caso brasileiro, a menor unidade administrativa do território nacional e o bairro, que é uma subdivisão municipal.


8. ESCALAS GEOGRÁFICAS – A abordagem da Geografia sobre o espaço geográfico geralmente acontece a partir de diferentes escalas geográficas (não confundir com escalas cartográficas). As escalas geográficas (escala local, regional, nacional, continental, planetária ou global) são formas de repartição do espaço considerando o grau de conseqüências que possuem os fatos. Uma guerra civil seria um exemplo de fato. Assim a escala local normalmente se refere ao âmbito municipal ou da cidade onde acontecem as relações mais cotidianas. Depois temos as demais escalas: a regional (referindo-se a uma região), a nacional (um país ou Estado-Nação), a continental (um continente inteiro) e a planetária ou global (todo o planeta). A importância das escalas geográficas está nas relações que se dão nelas e, muito importante, entre elas. Assim existem fenômenos nacionais que podem ter conseqüências regionais (em vários países) ou até globais. Um exemplo, como colocamos, seria uma guerra civil (um fato em si de escala local ou nacional). Por conta da guerra pessoas procuram segurança fugindo de um país para outro, onde se tornam refugiados. Esses refugiados tornam-se “um problema” para o país que os recebe... Assim tal guerra deixa de ser apenas um fato “nacional” e passa a ser também “regional”, pois afeta diversos países da região.


9. CAPITALISMO – O capitalismo (ou modo de produção capitalista) é “um sistema econômico e social baseado na propriedade privada dos meios de produção (terras, máquinas e outros equipamento indispensável para a fabricação de mercadorias), [NO CONTROLE DOS RECURSOS NATURAIS,] na organização da produção visando o lucro e empregando trabalho assalariado.”. Surgiu na Europa a partir do início do século XVI na forma mercantil (capitalismo mercantil ou mercantilismo). A partir de 1760 entra em sua fase industrial com a Primeira Revolução Industrial na Europa (Inglaterra), quando surge o trabalho assalariado no sentido que conhecemos e tomando a forma atual.



terça-feira, 2 de novembro de 2010

Seremos nós as futuras próteses orgânicas das máquinas? [2]

Semlimites.com
Orlando Albani de Carvalho - Professor [Geografia]

As técnicas e as tecnologias desenvolvidas pelo homem sempre objetivaram a adequação da natureza às necessidades humanas. Após ter criado uma segunda natureza por meio de uma série de artificializações do espaço, após a humanização da natureza de um modo jamais imaginado, vislumbramos para o futuro (o quão distante estará isso?) a hora do homem artificial, do homem-máquina. Note-se que já não vivemos mais sem uma série de próteses externas. O computador é uma dessas próteses. Podemos nos imaginas sem ela? E como será o futuro, que se avizinha sempre mais rápido? Que novas próteses surgirão? No futuro diversas próteses – efetivamente in-corporadas ao homem – “melhorarão” os seres humanos. Seremos meio humanos e meio robôs. No início mais humanos do que robóticos. Mas o que nos dá a garantia de que não nos tornaremos um dia as próteses orgânicas das máquinas (nós, robôs?)? A criatividade e a imaginação humanas não têm limites. Tristemente, a cobiça também não.
Quem ousa duvidar do criação do “homem perfeito” (na verdade não existe nada de inédito nessas palavras): o homem robótico, que não reclama por comida ou por salários (talvez apenas por uma bateria nova?), o não-proletário (não haveria prole), o trabalhador perfeito do capitalismo. A expansão do capitalismo e a invenção de novas formas de lucro também parecem – no modo de produção atual – não possuir limites. Vivemos tempos sem limites. O que poderá vir de bom disso? O capitalismo e o neoliberalismo (ou a globalização econômica vigente, baseada na utilização maciça de energia fóssil e outros recursos naturais em quantidades crescentes) colocaram-nos, possivelmente, em uma situação sem retorno: o aquecimento global e as mudanças climáticas, de consequências (im)previsíveis. A expansão do capital não tem apresentado freios ou limites. Sempre tratou o planeta como uma fonte... ilimitada de recursos (o capitalismo: uma forma sem limites de apropriação da natureza e de controle dos homens que nela vivem).
A natureza não é coisa que se possa querer dominar sem consequências. Mesmo que alguém já tenha dito que a natureza do homem é não ter nenhuma (Dufour), ou seja, que nosso habitat específico é uma segunda natureza criada pelo próprio homem e espalhada por todo o planeta, não resta dúvida de que a Terra é o único planeta que temos. Não há outro lugar para vivermos. Primeira ou segunda natureza, a Terra é a única natureza que temos. Não temos cuidado bem dela. Nem da maioria dos seres humanos que nela (con)vivem. Milhões passam fome. Temos capacidade para produzir alimentos para todos (com sobras) e a maioria passa fome ou é subnutrida. Agora resolvemos o problema dos combustíveis para os automóveis. Eles não beberão mais gasolina, mas cana-de-açúcar ou milho. Grande “avanço” tecnológico. Combustível renovável. Empresas farão grande alarde de seus programas de desenvolvimento sustentável. Mas desenvolvimento do quê? De quem? Dos mesmos de sempre. E a redução das áreas de plantio de feijão, de arroz (para darem lugar à commodities como a cana-de-açúcar) resultará, também, no prejuízo dos mesmos de sempre, os mais pobres, que verão o preço dos alimentos mais básicos (de menor interesse do capital) subir. Os problemas de quem essa nova tecnologia de combustíveis sustentáveis (?) resolveu? A gente quer comida. (Um pouco de diversão e arte também seria bom, mas deixemos isso para depois) É preciso pensar as tecnologias do presente e do futuro, bem como o capitalismo, de um modo como não temos feito: com (a) ética. É preciso que passemos a nos relacionar com o mundo (esse híbrido natural e cultural) tendo a ética e o ser humano em suas necessidades básicas (comida, água, casa, vestuário, educação, lazer e segurança) como estandartes e não o consumismo, o mercado e o capital. Que me perdoem os amantes das Ferraris e dos ternos Armani, mas é preciso que se ponha um limite em algumas coisas. Da poluição irresponsável até aos aspectos mais terríveis da existência do homem: a fome, a miséria, a violência (nacional e internacional) e também a especulação financeira improdutiva, vergonhosa e destrutiva. Vivemos tempos sem limites, é verdade. E de agudo individualismo (um “legado” do capitalismo). Mas isso não significa que nada mais possa ser feito. Então? O que vamos fazer? É preciso mudar o modo como as coisas estão.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

geografia

Ainda sobre a Geografia
Também é possível considerar que a geografia busca perceber e explicar as relações (espaciais e temporais) do homem com a natureza e dos homens entre si pela apropriação da natureza (é preciso lembrar que o homem também é natureza?), cujo resultado é a produção do espaço geográfico. O homem territorializa-se e seu território é todo o planeta e a "segunda natureza" criada por ele. Assim "a técnica é nosso meio", queiramos ou não. O meio técnico não é mais uma escolha. Ah! Não podemos esquecer também que para dominar a natureza - na maioria das vezes - é preciso dominar também os homens que vivem nela (lição aprendida com o Prof. Carlos Walter em vários livros). Quem ler "As veias abertas da América Latina" (Galeano,E., 1970 [2010] - livro que não requer comentários) pode compreender bem isso.

geografia

Sobre a Geografia
A geografia, na verdade, como ciência humana que é, ocupa-se das relações dos homens entre si no processo de apropriação do espaço. Enfim, a geografia se preocupa em compreender o espaço produzido como resultado das relações humanas: o espaço geográfico. Desta maneira o espaço geográfico é um espaço híbrido, natural e humanizado, uma segunda natureza, cultural e técnica. Mas nada disso é propriamente novidade. As técnicas são tão antigas quanto o homem.

A realidade

"A primeira condição para mudar a realidade é conhecê-la" (Eduardo Galeano)

Não nos basta ser carne

"A verdadeira natureza do homem é não ter nenhuma", isto é, a natureza específica do homem é uma segunda natureza criada por ele e para ele. Somos uma espécie por demais pretenciosa: desejamos dominar a natureza (mais que compreendê-la... o que é uma pretensão enorme). Pior que isso: não apenas queremos dominá-la: queremos (re)criar a natureza mais que perfeita: a natureza técnica. Não admitimos não sermos deuses. Não aceitamos ser apenas carne que um dia apodrece. Assim não é de dúvidar que um dia o homem queira criar o homem perfeito, o super-homem, o homem maquínico, o homem que é mais que o próprio homem. Quem será o deus então? O Homem ou a Máquina?