sábado, 27 de junho de 2009

"As técnicas exigem seu uso" e quem paga a conta é a floresta.

Para Umberto Galimberti, um dos problemas da atualidade (ou da modernidade) é o díssidio entre a técnica e a ética, entre o que se pode fazer (objeto da técnica) e o que se deve fazer (objeto da ética). A razão - técnica - só tem competência, diz Galimberti, sobre o que se pode fazer; o problema está em "ver como se consegue impedir de fazer aquilo que é possível através da técnica", uma vez que, de acordo com o mesmo autor, "as técnicas exigem o seu uso". Galimberti é um intelectual italiano, autor de Psiche e techne: o homem na idade da técnica. [tradução: José Maria de Almeida] – São Paulo: Paulus, 2006. Nesta obra Galimberti faz uma longa análise filosófica da técnica. O tema é importante, o que também foi salientado pelo geógrafo Milton Santos em seu livro "A natureza do espaço. Técnica e tempo, razão e emoção (São Paulo: Hucitec, 1997, v. cap.1): "O enfoque das técnicas pode tornar-se fundamental quando se trata de enfrentar essa questão escorregadia das relações entre o tempo e o espaço em geografia." Assim, sob vários aspectos, é fundamental que se pense a técnica. Na vida quotidiana atual existe uma certa banalização da técnica e das tecnologias de tão introduzidas que estão em nosso ambiente. Usamos as técnicas sem nenhuma reflexão a seu respeito (v. Kosik, K. Dialética do concreto. São Paulo: Paz e Terra, 1995). Quando acionamos o interruptor de luz da sala - especialmente no Brasil - obviamente não pensamos na origem da eletricidade que estamos utilizando. No caso do Brasil, cerca de 90% dela origina-se em hidrelétricas, obras que causam, como se sabe, grandes danos socioambientais, desde o desmatamento de grandes áreas de vegetação (a construção de apenas 3 usinas hidrelétricas na região amazônica, Santo Antônio, Jirau e Belo Monte, com o objetivo de suprir de energia a região sul-sudeste, em especial São Paulo, deverão requerer a inundação de cerca de 93 mil hectares de floresta) até os deslocamentos compulsórios das populações ribeirinhas. Apesar da discussão em torno da implantação de barragens e grandes hidrelétricaas ter aumentado bastante, ainda não é suficiente. Não seriam possíveis outras técnicas de geração de energia? Apesar de possível, seria realmente adequado construir barragens e hidrelétricas na Amazônia? Nossa civilização, que preza tanto a razão, terá pesado todas as possibilidades? Ou mais uma vez as técnicas - e o poder do capital - exigiram seu uso e ponto final? [OA2009]

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Se é geografia e se é crítica, então é Milton Santos. Assim vale lembrar o professor: "O espaço que, para o processo produtivo, une os homens, é o espaço que, por esse mesmo processo produtivo, os separa." (M. Santos, PENSANDO O ESPAÇO DO HOMEM. Edusp, 2004, p.33). Daí alguém já ter dito, poeticamente, que o espaço que nos une é o mesmo que nos separa. [OA, 2009]

Outra do prof. Milton Santos, para não esquecer: " [...] a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica. (...) As técnicas são um conjunto de meios (...) com os quais o homem (...) cria ESPAÇO. (v. A natureza do espaço. Hucitec, 1997, p.25)

Dominar a natureza

"O que os homens querem aprender da natureza é como empregá-la para dominar completamente a ela e aos homens. Nada mais importa." (v. Dialética do esclarecimento. Adorno & Horkheimer, 1985 [1947], p.18) Será?

Técnica e ética

A ética desvinculou-se da técnica. Aliás, bem mais correto, a técnica separou-se da ética. É pela ética que decidimos se devemos ou não realizar uma técnica. Não é papel nem da ciência, nem da técnica resolver tal questão. A ciência e a técnica são da ordem do fazer. É no campo da ética que se deve refletir sobre as razões para fazer ou não fazer alguma coisa. Assim, a solução dos problemas do presente não serão encontrados nem na ciência, nem na técnica, porque estas são totalitárias e hegemonizadas pelo poder oligopólico. A solução está na ética, na ética acima da ciência e da tecnologia. Vivemos a "idade da técnica" (v. U.Galimberti), separados da ética. Precisamos repensar nossas relações com a natureza e, sem dúvida, nossas próprias relações humanas. Os jornais noticiam que já são mais de 1 bilhão os desnutridos ou subnutridos do mundo, a maioria na África e na Ásia. Longe de nós? Nem tanto. A globalização não fez o mundo parecer menor? A África é aqui e a Ásia também. Não há falta de alimentos no mundo ou da possibilidade de produzi-los em quantidades suficientes para o dobro da população mundial. Mas sobra ganancia. Não se produz comida, somente commodities. "A gente não quer só comida", a gente quer um pouquinho de ética também ou, para ser bem sincero, um pouco de vergonha na cara. Estamos, novamente, a esperar que alguma nova técnica ou tecnologia venha para resolver os problemas ambientais, o aquecimento global, a fome... Estamos procurando no lugar errado, de novo. Não é a ciência e nem a tecnologia que vai resolver nossos tantos problemas.

domingo, 21 de junho de 2009

Outras, ainda, sobre a Técnica

"As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem [...] cria espaço." [M.Santos. A natureza do espaço (1997, p.25)]

"O sentido da técnica é a liberdade diante da natureza." [K. Jaspers, 1985 (1951), p.137]

"[...] Técnica é o procedimento com o qual o homem científico domina a natureza (...) a fim de dar ao seu em torno a forma que lhe pareça adequada." [K. Jaspers, 1985(1951), p.133]

' Técnica significa eficiência, velocidade, previsibilidade, controle, repetibilidade, enfim, o máximo de certeza na ação. Mas, acima de tudo, dominar as técnicas, constitui um poder. ' [OA2009]

sábado, 20 de junho de 2009

Técnica e espaço geográfico

As técnicas são um conjunto (sistema) de meios e procedimentos (ações) pelos quais o homem objetiva desvincular-se da aleatoriedade da natureza. Assim, os objetivos da técnica são controlar e regular a natureza, o tempo e o espaço, produzindo uma segunda natureza, que poderíamos chamar de espaço geográfico. (OA2009)

Será que nada é realmente im-possível?

Não devemos deixar de tentar realizar o impossível. Mas devemos pensar bem sobre tudo o que é possível de ser realizado. Quero, posso, mas.. devo fazer tudo o que é possível? Ah! Quantas coisas im-possíveis foram feitas. O que tinham na cabeça os homens que criaram as armas atômicas?

E por falar nisso...

Algumas frases soltas...

"As palavras não são inocentes" (A. Gorz)

"A verdadeira natureza do homem é não ter nenhuma" (D-R. Dufour)

"A técnica não é mais objeto de nossas escolhas" (U. Galimberti)

" As técnicas exigem o seu uso" (U. Galimberti)

O homem e a técnica

As técnicas e as tecnologias desenvolvidas pelo homem sempre objetivaram - em primeiro lugar - a adequação da natureza às necessidades humanas. Assim, o olhar técnico sempre se voltou para a natureza exterior, fora do homem. Hoje, no século XXI, a humanidade atingiu a possibilidade de não apenas transformar a natureza exterior a ela, mas o próprio corpo físico homem. Depois de ter criado uma segunda natureza por meio de uma série de artificializações do espaço, chegou a hora do homem artificial, do homem-máquina. Freud, a muito tempo, não nos deixa esquecer que jamais dominaremos completamente a natureza (sem dúvida uma frustração). A economia globalizada, baseada na utilização maciça de energia fóssil - nestes tempos de aquecimento global e mudanças climáticas - comprova que a natureza, de fato, não é coisa que se possa dominar.