terça-feira, 2 de novembro de 2010

Seremos nós as futuras próteses orgânicas das máquinas? [2]

Semlimites.com
Orlando Albani de Carvalho - Professor [Geografia]

As técnicas e as tecnologias desenvolvidas pelo homem sempre objetivaram a adequação da natureza às necessidades humanas. Após ter criado uma segunda natureza por meio de uma série de artificializações do espaço, após a humanização da natureza de um modo jamais imaginado, vislumbramos para o futuro (o quão distante estará isso?) a hora do homem artificial, do homem-máquina. Note-se que já não vivemos mais sem uma série de próteses externas. O computador é uma dessas próteses. Podemos nos imaginas sem ela? E como será o futuro, que se avizinha sempre mais rápido? Que novas próteses surgirão? No futuro diversas próteses – efetivamente in-corporadas ao homem – “melhorarão” os seres humanos. Seremos meio humanos e meio robôs. No início mais humanos do que robóticos. Mas o que nos dá a garantia de que não nos tornaremos um dia as próteses orgânicas das máquinas (nós, robôs?)? A criatividade e a imaginação humanas não têm limites. Tristemente, a cobiça também não.
Quem ousa duvidar do criação do “homem perfeito” (na verdade não existe nada de inédito nessas palavras): o homem robótico, que não reclama por comida ou por salários (talvez apenas por uma bateria nova?), o não-proletário (não haveria prole), o trabalhador perfeito do capitalismo. A expansão do capitalismo e a invenção de novas formas de lucro também parecem – no modo de produção atual – não possuir limites. Vivemos tempos sem limites. O que poderá vir de bom disso? O capitalismo e o neoliberalismo (ou a globalização econômica vigente, baseada na utilização maciça de energia fóssil e outros recursos naturais em quantidades crescentes) colocaram-nos, possivelmente, em uma situação sem retorno: o aquecimento global e as mudanças climáticas, de consequências (im)previsíveis. A expansão do capital não tem apresentado freios ou limites. Sempre tratou o planeta como uma fonte... ilimitada de recursos (o capitalismo: uma forma sem limites de apropriação da natureza e de controle dos homens que nela vivem).
A natureza não é coisa que se possa querer dominar sem consequências. Mesmo que alguém já tenha dito que a natureza do homem é não ter nenhuma (Dufour), ou seja, que nosso habitat específico é uma segunda natureza criada pelo próprio homem e espalhada por todo o planeta, não resta dúvida de que a Terra é o único planeta que temos. Não há outro lugar para vivermos. Primeira ou segunda natureza, a Terra é a única natureza que temos. Não temos cuidado bem dela. Nem da maioria dos seres humanos que nela (con)vivem. Milhões passam fome. Temos capacidade para produzir alimentos para todos (com sobras) e a maioria passa fome ou é subnutrida. Agora resolvemos o problema dos combustíveis para os automóveis. Eles não beberão mais gasolina, mas cana-de-açúcar ou milho. Grande “avanço” tecnológico. Combustível renovável. Empresas farão grande alarde de seus programas de desenvolvimento sustentável. Mas desenvolvimento do quê? De quem? Dos mesmos de sempre. E a redução das áreas de plantio de feijão, de arroz (para darem lugar à commodities como a cana-de-açúcar) resultará, também, no prejuízo dos mesmos de sempre, os mais pobres, que verão o preço dos alimentos mais básicos (de menor interesse do capital) subir. Os problemas de quem essa nova tecnologia de combustíveis sustentáveis (?) resolveu? A gente quer comida. (Um pouco de diversão e arte também seria bom, mas deixemos isso para depois) É preciso pensar as tecnologias do presente e do futuro, bem como o capitalismo, de um modo como não temos feito: com (a) ética. É preciso que passemos a nos relacionar com o mundo (esse híbrido natural e cultural) tendo a ética e o ser humano em suas necessidades básicas (comida, água, casa, vestuário, educação, lazer e segurança) como estandartes e não o consumismo, o mercado e o capital. Que me perdoem os amantes das Ferraris e dos ternos Armani, mas é preciso que se ponha um limite em algumas coisas. Da poluição irresponsável até aos aspectos mais terríveis da existência do homem: a fome, a miséria, a violência (nacional e internacional) e também a especulação financeira improdutiva, vergonhosa e destrutiva. Vivemos tempos sem limites, é verdade. E de agudo individualismo (um “legado” do capitalismo). Mas isso não significa que nada mais possa ser feito. Então? O que vamos fazer? É preciso mudar o modo como as coisas estão.

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