terça-feira, 2 de novembro de 2010

Seremos nós as futuras próteses orgânicas das máquinas? [2]

Semlimites.com
Orlando Albani de Carvalho - Professor [Geografia]

As técnicas e as tecnologias desenvolvidas pelo homem sempre objetivaram a adequação da natureza às necessidades humanas. Após ter criado uma segunda natureza por meio de uma série de artificializações do espaço, após a humanização da natureza de um modo jamais imaginado, vislumbramos para o futuro (o quão distante estará isso?) a hora do homem artificial, do homem-máquina. Note-se que já não vivemos mais sem uma série de próteses externas. O computador é uma dessas próteses. Podemos nos imaginas sem ela? E como será o futuro, que se avizinha sempre mais rápido? Que novas próteses surgirão? No futuro diversas próteses – efetivamente in-corporadas ao homem – “melhorarão” os seres humanos. Seremos meio humanos e meio robôs. No início mais humanos do que robóticos. Mas o que nos dá a garantia de que não nos tornaremos um dia as próteses orgânicas das máquinas (nós, robôs?)? A criatividade e a imaginação humanas não têm limites. Tristemente, a cobiça também não.
Quem ousa duvidar do criação do “homem perfeito” (na verdade não existe nada de inédito nessas palavras): o homem robótico, que não reclama por comida ou por salários (talvez apenas por uma bateria nova?), o não-proletário (não haveria prole), o trabalhador perfeito do capitalismo. A expansão do capitalismo e a invenção de novas formas de lucro também parecem – no modo de produção atual – não possuir limites. Vivemos tempos sem limites. O que poderá vir de bom disso? O capitalismo e o neoliberalismo (ou a globalização econômica vigente, baseada na utilização maciça de energia fóssil e outros recursos naturais em quantidades crescentes) colocaram-nos, possivelmente, em uma situação sem retorno: o aquecimento global e as mudanças climáticas, de consequências (im)previsíveis. A expansão do capital não tem apresentado freios ou limites. Sempre tratou o planeta como uma fonte... ilimitada de recursos (o capitalismo: uma forma sem limites de apropriação da natureza e de controle dos homens que nela vivem).
A natureza não é coisa que se possa querer dominar sem consequências. Mesmo que alguém já tenha dito que a natureza do homem é não ter nenhuma (Dufour), ou seja, que nosso habitat específico é uma segunda natureza criada pelo próprio homem e espalhada por todo o planeta, não resta dúvida de que a Terra é o único planeta que temos. Não há outro lugar para vivermos. Primeira ou segunda natureza, a Terra é a única natureza que temos. Não temos cuidado bem dela. Nem da maioria dos seres humanos que nela (con)vivem. Milhões passam fome. Temos capacidade para produzir alimentos para todos (com sobras) e a maioria passa fome ou é subnutrida. Agora resolvemos o problema dos combustíveis para os automóveis. Eles não beberão mais gasolina, mas cana-de-açúcar ou milho. Grande “avanço” tecnológico. Combustível renovável. Empresas farão grande alarde de seus programas de desenvolvimento sustentável. Mas desenvolvimento do quê? De quem? Dos mesmos de sempre. E a redução das áreas de plantio de feijão, de arroz (para darem lugar à commodities como a cana-de-açúcar) resultará, também, no prejuízo dos mesmos de sempre, os mais pobres, que verão o preço dos alimentos mais básicos (de menor interesse do capital) subir. Os problemas de quem essa nova tecnologia de combustíveis sustentáveis (?) resolveu? A gente quer comida. (Um pouco de diversão e arte também seria bom, mas deixemos isso para depois) É preciso pensar as tecnologias do presente e do futuro, bem como o capitalismo, de um modo como não temos feito: com (a) ética. É preciso que passemos a nos relacionar com o mundo (esse híbrido natural e cultural) tendo a ética e o ser humano em suas necessidades básicas (comida, água, casa, vestuário, educação, lazer e segurança) como estandartes e não o consumismo, o mercado e o capital. Que me perdoem os amantes das Ferraris e dos ternos Armani, mas é preciso que se ponha um limite em algumas coisas. Da poluição irresponsável até aos aspectos mais terríveis da existência do homem: a fome, a miséria, a violência (nacional e internacional) e também a especulação financeira improdutiva, vergonhosa e destrutiva. Vivemos tempos sem limites, é verdade. E de agudo individualismo (um “legado” do capitalismo). Mas isso não significa que nada mais possa ser feito. Então? O que vamos fazer? É preciso mudar o modo como as coisas estão.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

geografia

Ainda sobre a Geografia
Também é possível considerar que a geografia busca perceber e explicar as relações (espaciais e temporais) do homem com a natureza e dos homens entre si pela apropriação da natureza (é preciso lembrar que o homem também é natureza?), cujo resultado é a produção do espaço geográfico. O homem territorializa-se e seu território é todo o planeta e a "segunda natureza" criada por ele. Assim "a técnica é nosso meio", queiramos ou não. O meio técnico não é mais uma escolha. Ah! Não podemos esquecer também que para dominar a natureza - na maioria das vezes - é preciso dominar também os homens que vivem nela (lição aprendida com o Prof. Carlos Walter em vários livros). Quem ler "As veias abertas da América Latina" (Galeano,E., 1970 [2010] - livro que não requer comentários) pode compreender bem isso.

geografia

Sobre a Geografia
A geografia, na verdade, como ciência humana que é, ocupa-se das relações dos homens entre si no processo de apropriação do espaço. Enfim, a geografia se preocupa em compreender o espaço produzido como resultado das relações humanas: o espaço geográfico. Desta maneira o espaço geográfico é um espaço híbrido, natural e humanizado, uma segunda natureza, cultural e técnica. Mas nada disso é propriamente novidade. As técnicas são tão antigas quanto o homem.

A realidade

"A primeira condição para mudar a realidade é conhecê-la" (Eduardo Galeano)

Não nos basta ser carne

"A verdadeira natureza do homem é não ter nenhuma", isto é, a natureza específica do homem é uma segunda natureza criada por ele e para ele. Somos uma espécie por demais pretenciosa: desejamos dominar a natureza (mais que compreendê-la... o que é uma pretensão enorme). Pior que isso: não apenas queremos dominá-la: queremos (re)criar a natureza mais que perfeita: a natureza técnica. Não admitimos não sermos deuses. Não aceitamos ser apenas carne que um dia apodrece. Assim não é de dúvidar que um dia o homem queira criar o homem perfeito, o super-homem, o homem maquínico, o homem que é mais que o próprio homem. Quem será o deus então? O Homem ou a Máquina?

sábado, 23 de outubro de 2010

Homem-máquina

Seremos nós, no futuro, as próteses orgânicas das máquinas?
Orlando Albani de Carvalho - Professor [Geografia]


As técnicas e as tecnologias desenvolvidas pelo homem sempre objetivaram a adequação da natureza às necessidades humanas. As técnicas são tão antigas quanto a humanidade. Mas o olhar técnico sempre se voltou para a natureza exterior, fora do homem. Hoje, no século XXI, a humanidade atingiu a possibilidade de não apenas transformar a natureza exterior, mas também o próprio corpo do homem. Depois de ter criado uma segunda natureza por meio de uma série de artificializações do espaço, chegou a hora do homem artificial, do homem-máquina. Já não vivemos mais sem uma série de próteses a um bom tempo. O computador é uma destas próteses sem as quais já não nos imaginamos sem. A técnica, que já tornou-se o nosso meio, agora se volta para o próprio homem. Já somos, de certo modo, maquínicos (pense na sua inseparabilidade de certas máquinas: o carro, o celular, o computador).  Como será o futuro? Que novas próteses surgirão? Ou nos tornaremos (NÓS!) as próteses orgânicas das máquinas? Com Freud não devemos esquecer que jamais dominaremos completamente a natureza (sem dúvida uma frustração para a humanidade e especialmente para o capitalismo). A economia globalizada, capitalista e neoliberal (e irresponsável [para não dizer criminosa] com as gerações futuras), baseada na utilização maciça de energia e outros recursos naturais em quantidades crescentes (como pretendem que sejam os lucros dos capitalistas [sempre maiores!]), em níveis que podem chegar a esgotar a capacidade de resiliência do planeta, colocou-nos, possivelmente, em uma situação sem retorno: o aquecimento global e as mudanças climáticas, de consequências imprevisíveis, especialmente para os menos adaptáveis, os pobres dos países subdesenvolvidos. A natureza não é coisa que se possa querer dominar. 

Velha roupa colorida

Visual novo! E...?

Energia

Energia nuclear livre de emissões de dióxido de carbono? Muito pelo contrário.

Greenpeace

Nos últimos tempos virou moda dizer que a solução para o aquecimento global é promover a geração de energia por usinas nucleares. Elas seriam, segundo seus defensores, livres de emissões de gases do efeito estufa e assim poderiam ajudar no combate às mudanças climáticas. Balela. As usinas atômicas podem até ser menos poluentes do que usinas a carvão mineral ou óleo combustível, mas Angra 3 por exemplo tem um índice de emissões indiretas de gás carbônico (CO2) cinco vezes mais alto do que a energia solar fotovoltáica (solar) e eólica.
Os dados constam do novo relatório do Greenpeace intitulado Cortina de Fumaça: emissões de CO2 e outros impactos da energia nuclear, que foi lançado nesta segunda-feira no Rio de Janeiro durante audiência pública do processo de licenciamento ambiental de Angra 3, realizada no Centro de Convenções Cidade Nova. Ativistas do Greenpeace protestaram no local, com latões amarelos simulando tonéis de lixo nuclear e uma faixa com a mensagem: "Angra 3 = lixo nuclear".
Para calcular as emissões de CO2 de Angra 3, o Greenpeace analisou o ciclo completo da energia nuclear no Brasil, considerando as seguintes etapas: extração de minério de urânio, fabricação de combustível nuclear, transporte de combustível, construção da infra-estrutura da usina, gerenciamento de rejeitos radioativos e descomissionamento da usina ao fim de sua vida útil.
De acordo com o estudo, as emissões de CO2 de Angra 3 comprovam a ineficácia da energia nuclear na mitigação das mudanças climáticas e mostram que investir nesta opção energética é um desvio caro e perigoso no combate ao aquecimento global. O documento "Cortina de Fumaça" também detalha os outros impactos ambientais da energia nuclear, especialmente o lixo radioativo, problema que continua sem solução em todo o mundo, e o histórico brasileiro de insegurança nuclear.
"Para reduzir sua participação nas mudanças climáticas, o Brasil deveria investir os mais de R$ 7 bilhões necessários para construir Angra 3 no combate aos 75% de emissões nacionais de gases do efeito estufa provenientes do desmatamento e do uso do solo", afirma Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de energia do Greenpeace. "Aliás, R$ 7 bilhões é o valor inicialmente estimado por nove ONGs sociais e ambientais e um grupo de economistas na proposta para zerar o desmatamento da Amazônia até 2015".
Do ponto de vista energético, o engenheiro elétrico Ricardo Baitelo, autor do estudo "Cortina de Fumaça", comenta que o Brasil dispõe de tecnologia e fartos recursos renováveis que inviabilizam a energia nuclear em todos os aspectos.
Para o especialista do Greenpeace, ao se considerar custos, subsídios, longos períodos de construção, riscos de acidentes e questões de segurança inerentes à geração nuclear, chega-se à conclusão de que existem alternativas mais baratas, eficientes e seguras para atender à crescente demanda por energia e proporcionar o desenvolvimento econômico e social do país.
"Com os mais de R$ 7 bilhões previstos para Angra 3, seria possível, por exemplo, construir um parque eólico com o dobro da capacidade da usina nuclear, que é de apenas 1350 MW, sem gerar lixo tóxico e sem o risco de acidentes. O governo Lula poderia ainda buscar inspiração no Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), que com apenas 12% do investimento de Angra 3 (ou R$ 850 milhões), economizou 5.124 MW, ou quatro vezes a capacidade da usina nuclear", explica Baitelo.
"Passados mais de 30 anos da decisão do governo militar de construir a terceira usina nuclear brasileira, Angra 3 é um projeto marcado pelo atraso, pela ilegalidade, pelos altos riscos e por objetivos militares velados", afirma Rebeca Lerer, do Greenpeace. Para ela, a situação se agravou com as declarações feitas recentemente pelo ministro da defesa, Nelson Jobim. Ao participar de evento sobre segurança nacional, Jobim deixou transparecer interesses militares por trás da recente retomada do Programa Nuclear Brasileiro (PNB). "Pode até soar absurdo, mas o uso militar da tecnologia nuclear parece ser uma explicação lógica para a decisão do governo Lula de ressuscitar o PNB, começando com o investimento bilionário de recursos públicos no dinossauro radioativo Angra 3".
Além de expor os impactos ambientais de Angra 3, o Greenpeace está questionando a legalidade da usina na justiça com base em parecer escrito pelo jurista José Afonso da Silva.

Fonte: http://www.lainsignia.org/2007/diciembre/ecol_001.htm - em 31/05/2009 – 00:27h

Furacões e aquecimento global

Aumento de tempestades em cinco bacias oceânicas sugere relação de causa e efeito entre os fenômenos.
por Rubens Junqueira Villela

Recente trabalho sobre a mudança na quantidade, duração e intensidade de ciclones tropicais, em cinco bacias oceânicas e nos últimos 35 anos, de P. J. Webster, J. A. Curry e H-R. Chang, pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA), e G. J. Holland, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA, publicado na Science de 16 de setembro último, confirma outros estudos que apontavam um crescimento da freqüência de furacões das mais altas intensidades (categorias 4 e 5).
Esse incremento acompanha o progressivo aumento observado na temperatura da água de superfície nos mesmos oceanos. Esse aumento foi da ordem de 0,5ºC, no período 1970-2004, na temporada de furacões. Entretanto, não procura estabelecer relação de causa e efeito - embora a deixe subentendida - entre o aumento de tempestades tropicais e o aquecimento global, tal como sugerida por K. E. Trenberth, por exemplo, mas colocada como especulativa e sujeita a forte controvérsia. O debate parece reativar-se com as trágicas conseqüências do Katrina sobre Nova Orleans e região.
Entre as razões apontadas pelos autores do Georgia Tech e NCAR, que dificultam uma conclusão definitiva sobre o papel do aquecimento global na variação das tempestades tropicais, estão: 1) a variabilidade natural de ano para ano das estatísticas; 2) a interferência de outros fenômenos de grande escala como o El Niño e a Oscilação do Atlântico Norte (NAO); 3) o papel de outros fatores atmosféricos como a variação (cortante) dos ventos com a altitude; 4) a disponibilidade de umidade na média troposfera; 5) a falta de registros climatológicos mais longos; e 6) a falta de melhor entendimento do papel dos furacões na circulação da atmosfera e dos oceanos.
O estudo de Webster e colegas é menos conclusivo quanto à alteração do número e duração dos furacões em geral (a denominação é por eles aplicada a todo tipo de ciclone tropical, independentemente dos nomes regionais). Apenas no Atlântico Norte o aumento de freqüência para todas as categorias ( de 1 a 5) somadas é inequívoco. O argumento a favor de uma relação causal entre incremento na freqüência e intensidade de furacões e aumento da temperatura dos oceanos estaria fundamentado em uma suposta aceleração do ciclo hidrológico surgida através de uma relação não-linear entre a evaporação e a temperatura, já que a formação de furacões exige que a água esteja acima de 26oC. Os modelos de simulação do clima supondo uma duplicação do CO2 na atmosfera resultam em um aumento expressivo do número de ciclones tropicais de categoria severa, mas não de todas as categorias de intensidade.
Uma comparação do número de furacões de categoria 4 e 5 em dois períodos, 1975-1989 e 1990-2004, mostra que no Pacífico Oeste o número aumentou de 85 para 116 (ou de 25% para 41% do total), e no Atlântico Norte, de 16 para 25 (de 20% para 25%).
Em boletim datado de 2 de agosto, o Centro Nacional de Furacões dos EUA previa até mais de cinco grandes furacões no Atlântico Norte, totalizando sete furacões dessa classe na estação (maio a novembro), consideravelmente acima do normal. Entre os fatores favoráveis para isso estaria uma maior atividade dos distúrbios (perturbações atmosféricas que causam trovoadas) na África ocidental. Ali as trovoadas se propagam de leste para oeste e dão origem aos chamados furacões de Cabo Verde, que seguem rumo constante em direção ao Caribe. Ao fim, atravessam uma grande extensão oceânica de águas quentes, onde absorvem mais e mais energia calorífica, até se transformarem, muitos deles, nos monstros tipo Katrina - precisamente um "cabo-verdiano" .
O primeiro furacão a gente nunca esquece... Meu primeiro foi o Hazel em 1954: o olho passou sobre mim em Washington, a capital do EUA, que ficou seis horas sem energia elétrica. Apesar de nossa longa convivência com furacões, parece que eles ainda são um mistério não bem explicado pela ciência. Seja Katrina ou Catarina, a versão brasileira mais "light", os atuais parecem sinalizar, com cada vez mais clareza, e outros indícios, uma mudança climática - e para pior, associada ao aquecimento global.

Rubens Junqueira Villela é meteorologista e professor aposentado do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/furacees_e_aquecimento_global.html [23/10/2009]

Aquecimento global

Primórdios do aquecimento global

Felipe A. P. L. Costa (*)

A queima de hidrocarbonetos - principalmente combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás natural) - é ainda hoje a mais importante fonte de energia a movimentar os negócios em escala planetária. Esse processo resulta na emissão de subprodutos indesejáveis, notadamente o dióxido de carbono, ou gás carbônico. A emissão de dióxido de carbono de origem antropogênica (resultante das atividades humanas) aumentou muito a partir de meados do século 18, com a Revolução Industrial. De lá para cá, a proliferação de máquinas e motores à explosão transformou a queima de combustíveis fósseis em uma quase-necessidade - e, claro, em um negócio bastante lucrativo.
Estima-se hoje que aproximadamente 7,7 gigatoneladas (uma gigatonelada, Gt, equivale a um bilhão de toneladas) de dióxido de carbono (CO2) antropogênico sejam lançadas a cada ano na atmosfera. Desse total, 5,7 Gt derivam da queima de combustíveis fósseis; as 2 Gt restantes provêm do desflorestamento, principalmente em países tropicais, como o Brasil. Para onde vai toda essa fumaça?
Moléculas de dióxido de carbono atmosférico estão constantemente fluindo para a biosfera, os solos e os oceanos. A biota de terra firme, por exemplo, absorve anualmente cerca de 102 Gt de carbono da atmosfera na forma de CO2, devolvendo 50 Gt via respiração e outras 50 Gt via decomposição. Trocas semelhantes ocorrem entre os oceanos e a atmosfera, com um saldo líquido em favor dos oceanos. Se parássemos por aqui, a contabilidade global estaria mais ou menos equilibrada, pois a absorção líquida de carbono por parte da biosfera e dos oceanos é compensada ao longo do tempo pela entrada na atmosfera do dióxido de carbono oriundo da atividade vulcânica.
O problema é que ao longo dos últimos 250 anos a emissão de quantidades crescentes de dióxido de carbono antropogênico passou a desequilibrar os fluxos naturais. Até meados do século 20, no entanto, poucos cientistas levavam a sério a hipótese de que atividades humanas pudessem de fato provocar mudanças na composição química da atmosfera e que estas, por sua vez, seriam capazes de alterar de modo significativo o clima da Terra.
Um dos pioneiros na formulação dessa hipótese foi o químico sueco Svante Arrhenius (1859-1927), laureado com o Nobel de Química em 1903. Tomando como ponto de partida as idéias do matemático e físico francês Jean-Baptiste Fourier (1768-1830), para quem a atmosfera terrestre funcionaria de modo semelhante a uma estufa, mantendo o ar em seu interior aquecido, Arrhenius investigou o que poderia ocorrer com o clima do planeta, caso a concentração de gás carbônico aumentasse. Naquela época, os riscos de um eventual aquecimento global de origem antropogênica soavam como algo muito remoto ou mesmo impossível, e as especulações em torno do assunto permaneceram na obscuridade, mesmo entre cientistas.
Um sinal de mudança ocorreu em 1938, quando o engenheiro e inventor inglês Guy Stewart Callendar (1898-1964) escreveu um artigo relacionando o aumento observado na concentração de CO2 atmosférico com a correspondente escalada na temperatura média do ar. Para a maioria dos especialistas da época, porém, suas conclusões eram precipitadas ou improcedentes. O fato de o vapor d'água ser um componente da atmosfera muito mais abundante do que o dióxido de carbono também fazia com que muitos cientistas creditassem a este último um papel apenas secundário na determinação do efeito estufa. Essa opinião começou a ruir em 1956, quando o físico canadense Gilbert Plass (1921-2004) publicou os resultados de seus estudos sobre a absorção de radiação por substâncias presentes na atmosfera, como o dióxido de carbono.
Foi nesse contexto que, em 1957, Roger Revelle e Hans Suess, ambos do Instituto Scripps de Oceanografia, nos Estados Unidos, publicaram 'Carbon dioxide exchange between the atmosphere and ocean and the question of an increasing atmospheric CO2 during past decades' ('Troca de dióxido de carbono entre a atmosfera e o oceano, e a questão do aumento de CO2 atmosférico em décadas passadas'), que mudou de vez nosso modo de ver a questão. Nesse artigo, veiculado na revista científica Tellus, Revelle e Suess apresentaram pela primeira vez evidências convincentes para descrever e explicar o comportamento em larga escala do dióxido de carbono antropogênico. Em linhas gerais, o que eles fizeram foi revelar como e por que os oceanos - cujo estoque total de carbono (36 mil Gt) é cerca de 50 vezes maior do que o estoque atmosférico (730 Gt) - não seriam um pronto-escoadouro para o excesso de gás carbônico despejado no ar.

UM DADO NOVO
É fato que os oceanos absorvem dióxido de carbono atmosférico (o que, aliás, está produzindo seus próprios efeitos indesejáveis), e isso já era conhecido naquela época. No entanto, o que Revelle e Suess revelaram de novo foi que essa absorção ocorre em um ritmo bem mais lento do que até então se imaginava. Tal descoberta contrariava a opinião de quem acreditava que o excesso de CO2 antropogênico seria prontamente absorvido pelos oceanos.
A explicação proposta por eles para essa lentidão é que há um freio natural (conhecido agora como 'efeito Revelle') que dificulta ou mesmo impede a difusão de moléculas de dióxido de carbono atmosférico na camada superficial dos oceanos. A questão da absorção de CO2 pelos oceanos, vale frisar, costuma ser dividida em duas partes: a difusão do gás nas águas superficiais (processo relativamente rápido, medido em dias ou meses) e a posterior mistura dessas camadas superficiais com o restante da coluna d'água (processo lento, medido em anos ou séculos). A intensidade do fator Revelle varia com as circunstâncias: quando seu valor é alto, a dificuldade de absorção é maior; quando é baixo, a dificuldade é menor.
A conclusão dos autores não poderia ser mais preocupante: se os oceanos não estão absorvendo prontamente o excesso de CO2 antropogênico, a emissão continuada - como, aliás, vem ocorrendo desde então - deverá resultar em um gradativo acúmulo desse gás na atmosfera. Sabendo que o dióxido de carbono é um gás-estufa, um aumento em sua concentração deve intensificar o efeito estufa já exercido pela atmosfera, o que implicaria uma elevação da temperatura média da superfície do planeta. A esse último fenômeno damos o nome de aquecimento global.
Efeito estufa e aquecimento global são termos relacionados, mas não são sinônimos nem deveriam ser confundidos entre si. Efeito estufa é um fenômeno natural, observado em todos os planetas do sistema solar cuja superfície é coberta por uma camada permanente de gases (atmosfera). A composição química da atmosfera, notadamente a concentração de CO2, tem papel decisivo na intensidade do efeito estufa, sendo, contudo, variável de um planeta para outro. O dióxido de carbono é um gás transparente à luz do Sol, mas é capaz de reter o calor (radiação infravermelha) liberado pela superfície terrestre. Assim, quanto maior o teor de CO2, mais intenso deverá ser o efeito estufa exercido pela atmosfera terrestre, o que significa que a temperatura da superfície do planeta será mais elevada. Como a presença de CO2 acentua o efeito estufa, dizemos que ele é um gás-estufa.
A atmosfera de Vênus, por exemplo, é formada essencialmente por dióxido de carbono (96%), o que ajuda a explicar o intenso efeito estufa que resulta em temperaturas de superfície sempre tão elevadas (acima de 350°C). No caso da Terra, ocorre o seguinte: de toda a energia do Sol que atinge o planeta, cerca de 30% são imediatamente refletidos de volta ao espaço, outros 20% são absorvidos por elementos da atmosfera (principalmente moléculas de água) e os 50% restantes alcançam a superfície do planeta (terra firme e oceanos). Desses 50%, uma parte é absorvida e outra é refletida de volta à atmosfera. A maior parte da radiação refletida pela superfície do planeta é absorvida pela atmosfera ou é re-refletida de volta à superfície; apenas uma pequena fração escapa para o espaço. O efeito líquido desse ziguezague da radiação é o aquecimento da atmosfera e da superfície do planeta - daí o nome efeito estufa.
O aquecimento global é a intensificação do efeito estufa, e sua origem estaria relacionada com as emissões de gases-estufa promovidas por atividades humanas ao longo dos últimos 250 anos. Ao contrário do que se imaginava 50 anos atrás, sabemos agora que as emissões antropogênicas podem alterar - de fato, já estão alterando - a composição química da atmosfera. Com isso, mudaremos também seu comportamento, como a capacidade de reter ou refletir radiação. Em resumo, podemos dizer que o processo de aquecimento global é resultado de uma intensificação de origem antropogênica de um mecanismo natural chamado efeito estufa.
A descoberta de Revelle e Suess teve inúmeras repercussões, notadamente a incorporação do aquecimento global à agenda científica. Além disso, suas conclusões estimularam a criação de novas linhas de pesquisas, como as medições diárias da concentração de dióxido de carbono atmosférico, empreendimento que vem sendo conduzido de modo ininterrupto desde aquela época. Graças a esse monitoramento rigoroso, iniciado pelo químico americano Charles Keeling (1928-2005) - ver 'A curva de Keeling', em Ciência Hoje no 219 -, temos hoje um quadro bastante detalhado do que ocorreu com a concentração de dióxido de carbono atmosférico ao longo dos últimos 50 anos. Projeções e análises comparativas permitiram ainda estimar a concentração desse gás em épocas pregressas.
A conclusão geral após todos esses anos de trabalho científico é preocupante. Resta agora saber se os governantes e as agências internacionais terão de fato disposição e capacidade para enfrentar o problema de frente, o que sem dúvida vai exigir a adoção de medidas contrárias aos interesses de empresas poderosas (companhias petrolíferas e a indústria automobilística, por exemplo), que são direta ou indiretamente responsáveis pela emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono antropogênico.


(*) Biólogo, meiterer@hotmail.com, autor dos livros Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006). Este artigo foi originalmente publicado na edição No. 238 (junho de 2007) da revista Ciência Hoje (http://cienciahoje.uol.com.br)  - La Insignia. Brasil, julho de 2007.
Fonte: http://www.lainsignia.org/2007/julio/ecol_001.htm - em 31/05/2009 - 00:29h

É tempo

"É tempo, enfim, de deixar de ser o que não somos." (ANIBAL QUIJANO, sociólogo peruano)

O Homem

"O fato de que o homem é capaz de criar significa que se pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável." (Hannah Arendt)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Globalização econômica e neoliberalismo

Orlando Albani de Carvalho


A globalização econômica é a expressão máxima do processo de mundialização das relações entre as nações ao mesmo tempo que significa a mudança na concepção do papel dos Estados Nacionais frente a suas posições políticas e econômicas. Representa, também, a redução das barreiras comerciais entre alguns mercados e tem ampliado os investimentos internacionais e as alianças entre países e empresas. Além disso, é um jogo de poder, onde os países com maior capacidade econômica, política e financeira determinam o que é certo ou errado em termos de práticas comerciais.
Estes fatos fazem parte de um contexto mais amplo que tomou forma com a aplicação das idéias chamadas neoliberais, em um quadro de rápido avanço técnico-científico informacional, no inicio dos anos 1980. Segundo as teses do Neoliberalismo, o Estado devia implantar um amplo programa de privatizações, restringindo suas ações a alguns setores como saúde e educação (mas estes, principalmente nos países periféricos, não devem possuir nem qualidade, sem capacidade, para concorrer com a iniciativa privada). Para os neoliberais, extrair petróleo e produzir aço por exemplo, não são atribuições do Estado. O Estado deve envolver-se minimamente na economia, deixando esta organizar-se pelas livres iniciativas do próprio mercado (dominado e regulado, observe-se, pelos grandes grupos transnacionais). Apesar de podermos considerar a globalização como algo que se inicia com o momento histórico-geográfico conhecido por Grandes Navegações (séc. XVI), é com o advento do Liberalismo que passamos a melhor identificar o conjunto de idéias que resultaram na globalização econômica atual.


Origens do Neoliberalismo: o pensamento de Adam Smith


O atual pensamento neoliberal tem sua origem no Liberalismo (séc. XVIII) que propunha um rol de idéias em relação à condição do Estado frente a Economia e a Política.
O século XVIII na Inglaterra marca um período onde passa-se a considerar que a principal fonte de riqueza de um país esta na sua capacidade de produzir mercadorias [anteriormente, no período mercantilista, a fonte de riqueza era a obtenção de ouro e prata, o que portugueses e espanhóis fizeram muito bem na América Latina].


Assim o LIBERALISMO inglês vai considerar:
 Que o Estado não deve intervir na Economia.
 O Estado não deve intervir no valor dos salários.
 O fim dos monopólios estatais (o Estado não deve fazer concorrência com a iniciativa privada) e protecionismos (barreiras alfandegárias) aos produtos nacionais.
 Livre Mercado (abertura do mercado interno nacional às mercadorias/serviços de empresas estrangeiras)
 A livre concorrência entre as empresas.


O escocês Adam Smith (1723-1790) foi um dos principais defensores destas idéias. Para ele não havia necessidade do Estado intervir na Economia Nacional uma vez que esta era “guiada” pelas leis naturais do mercado, isto é, a livre concorrência e a competição entre os produtores.
Estes fatores é que determinavam o melhor preço para as mercadorias e eliminavam os ineficientes. Deste modo, o próprio mercado regulava a Economia, não sendo necessária a participação do Estado.
Finalmente Adam Smith considerava que os salários seriam condicionados pela Lei da Oferta e da Procura. Mesmo considerando que os patrões levavam vantagem, ele achava que o salário nunca deveria ser um valor insuficiente para o trabalhador se manter (os neoliberais, no futuro, veriam os altos salários do operariado como um “mal econômico” pois estes atuavam como redutores dos lucros das empresas. Verifica-se isto hoje pelas diversas “migrações” de empresas para países mais atrasados tecnologicamente onde encontram mão-de-obra mais barata).


Thomas Malthus: as teorias sobre os salários


No final do século XVIII e inicio do XIX as coisas se “complicaram” entre latifundiários (grandes proprietários de terras que trabalhavam com agricultura e pecuária) e os industriais. Os latifundiários defendendo políticas de proteção da agricultura e restrições nas importações para que não concorressem com seus produtos. Os industriais defendendo o livre comercio e o fim de protecionismos. Esta discussão segue até hoje, principalmente na Europa.
Neste mesmo período outro pensador , Thomas Malthus, desenvolveu teorias sobre o valor do salário, aspecto crucial para o desenvolvimento nacional.
De forma sintética o que ele dizia era que o salário do trabalhador, no campo ou na industria, deveria ser apenas o suficiente para sua sobrevivência, ou seja, para cobrir suas necessidades de alimentação, roupas e moradias. Este fato impediria o que considerava um grave problema na época: o crescimento demográfico. Malthus buscava legitimar os baixíssimos salários considerando que se o trabalhador ganhasse muito dinheiro teria mais filhos e como a produção de alimentos seria insuficiente se iniciaria uma era de fome e miséria o que seria prejudicial, “no final das contas”, à Economia.
Criou-se desta forma uma “justificativa” para os baixos salários pagos pelos donos das industrias aos seus empregados: estavam os patrões, ao pagar salários miseráveis aos trabalhadores, “salvando-os” da morte por inanição...


A Revolução Industrial e o Liberalismo


A Revolução Industrial (desenvolvimento das indústrias alavancado principalmente pela invenção da máquina a vapor, levando à mecanização da produção) iniciada no século XVIII consolidou o pensamento liberal. A sociedade passa a “dividir-se” em duas classes de indivíduos:
(1) Os Capitalistas (proprietários do Capital/Bens de Produção)
(2) Os Assalariados (proprietários unicamente de força de trabalho, a qual vendiam aos Capitalistas)
No decorrer do século XIX a Revolução Industrial e o Liberalismo atingiu muitos países além da Inglaterra, como a França, Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda, Estados Unidos, Canadá, Japão.
Estes países se tornaram fortemente industrializados e avançados tecnologicamente garantindo até 1914 (1ª Guerra Mundial) a hegemonia européia no mundo.
Assim, é com a Revolução Industrial e com o ideário liberal que surge a Sociedade Capitalista como a conhecemos.
No final do século XIX – período igualmente de grande avanço tecnológico – , a livre concorrência, levava a uma diminuição das taxas de lucro, o que gerou a formação de monopólios privados (domínio de um setor industrial, ou da produção de uma determinada mercadoria, por uma única empresa ou grupo de empresas obtendo o poder de determinar o preço que desejasse para seus produtos, uma vez que eram seus únicos produtores) e de acordos econômicos entre empresas do mesmo ramo. O capital monopolista criou os trustes, associações de várias empresas que controlavam todas as etapas da produção de uma mercadoria, desde a extração de matéria-prima. Criou também os cartéis, acordos entre empresas, que estabelecem os preços de seus produtos, o volume da produção e dividem o mercado entre si. Ou seja, as grandes empresas organizavam-se para melhor dominar (e garantir) os mercados consumidores e as regiões fornecedoras de matérias-primas.


A crise de 1929 e o Keynisianismo


No final da década de 1920 o capital investido na produção industrial é gigantesco, particularmente nos EUA onde os grandes empresários internacionais encontravam na Bolsa de Valores de Nova York seu principal centro de investimentos. É um período de grande produção, mas que não foi acompanhado pelo crescimento do mercado consumidor. Este descompasso entre a superprodução de mercadorias e a ausência de uma quantidade suficiente de consumidores ocasionou uma grande crise, a chamada Crise de 1929 nos EUA. As fábricas não tendo para quem vender suas mercadorias paralisaram a produção. Os trabalhadores perderam seus empregos retraindo ainda mais o mercado consumidor. Muitos investidores perderam todo o capital aplicado em ações da Bolsa de NY.
Esta crise no modelo liberal levou à tomada de uma nova atitude (New Deal). Identificando a superprodução como a principal razão da crise de 1929, os países industrializados tomaram duas medidas para cortar o mal pela raiz :


1. O Estado passa a ter uma participação mais efetiva no planejamento da produção.
2. O Estado passa a adotar medidas para melhorar a distribuição de renda, de modo à reampliar o mercado consumidor.


Em outras palavras, o Estado deveria passar (e passa) a regular de forma mais ativa a Economia. É o chamado New Deal, implantado pelo governo Roosevelt (EUA) e inspirado nas idéias do economista John M. Keynes.
Para Keynes o Estado devia ser um planejador que dava as diretrizes, fixava metas e estimulava este ou aquele setor da Economia de acordo com a conjuntura do momento. Keynes, deste modo, antagonizava o modelo liberal. Este modelo de Estado planejador (Keynisianismo) foi seguido por outros países europeus e no final da década de 30 já retomavam o desenvolvimento e dando origem ao chamado Estado de Bem-Estar Social.
Mas em 1939 explode a 2ª Guerra Mundial que, como se sabe, traria muitos danos humanos, sociais e econômicos para a Europa. Ao final dela o continente europeu está muito enfraquecido, necessitando de reestruturação tanto da infra-estrutura (pontes, estradas, casas) como do parque industrial. É a “hora” dos EUA. Não tendo sido diretamente atingidos pela guerra, sua economia, parque industrial e mercado consumidor interno estão mais fortes do que nunca.
A destruição da Europa, por ocasião da guerra, selou o fim da hegemonia européia e o surgimento de um novo poder em escala global, o dos EUA (solidificação da hegemonia norte-americana). Este poder dos EUA seria antagonizado pela URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – marcando o conflito geopolítico que chamamos de Guerra Fria (Capitalismo norte-americano versus Socialismo soviético), pois não demandou no enfrentamento bélicos direto entre as duas superpotências bélico-nucleares, mas pelas disputas por zonas de influência por todo o planeta, configurando um período que chamamos de bipolar (dois pólos disputando poder).
A reunificação da Alemanha e o fim da URSS (em 1991) marcariam o final da Guerra Fria e da bipolariadade para dar inicio a um novo momento, onde o mundo passaria a ter uma nova ordem de caráter multipolar centrada em três eixos (EUA, União Européia e Japão) e com a formação de blocos econômicos.


A Conferência de Bretton Woods a formação do FMI


Logo após a 2ª Guerra Mundial os EUA são o principal expoente da economia mundial. São a maior potência industrial e agrícola. Detém os maiores recursos financeiros (em 1948, 72% de todo o ouro existente no mundo estavam em cofre nos EUA) e necessitam ampliar o comercio mundial de suas mercadorias. Para isso necessitam do fortalecimento da economia capitalista em nível global.
Como parte de tal estratégia é feita em 1944 a Conferência de Bretton Woods, nos EUA, com o objetivo de definir formas de retomada do desenvolvimento capitalista e a maior integração da economia mundial. São criados o FMI – Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o GATT (Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio, que em 1995 seria substituído pela Organização Mundial do Comercio - OMC), tanto para prover a Europa de fundos (dinheiro) para sua reconstrução, como para reestruturar (organizar) o comercio mundial, estimular o comercio internacional e, ainda, promover ajuda econômica e dar assessoria técnica aos países membros – ricos ou pobres – que tivessem problemas financeiros. O dólar passa, neste momento, a ser a referencia dos preços no comercio mundial e aceito em todas as transações, fato que valorizou muito a moeda americana. Neste contexto toma corpo na Europa o Estado de Bem-Estar Social, conhecido como Welfare State.


O papel do Fundo Monetário Internacional


Hoje, diz-se, que mais que “ajudar” países pobres com problemas financeiros, o FMI praticamente administra-os, tal é o seu nível de ingerência sobre as políticas nacionais e na massiva transferencia financeira representada pela cobrança de juros sobre a dívida (o chamado “serviço da dívida). É um fato que a condição de “devedor” implica na aceitação e realização de um conjunto de premissas estabelecidas pelo FMI, porém a questão não é “tão simples assim”.
Esta “administração”, por parte do Fundo, não pode ser pensada como algo unicamente exterior ao país. Para que as ações do FMI se realizem é necessária a colaboração interna. Dito de outro modo: é preciso a existência de um grupo interno que forneça os dados – principalmente estatísticos – nos quais se baseia o Fundo para planejar as estratégias e diretrizes que o país – perpétuo devedor – deve realizar. E este mesmo grupo deve estar, depois, disposto a realizar as políticas que o FMI indica.
Sendo assim aqueles que discursam colocando todos os problemas do país como resultado da dívida externa e das determinações do FMI estão fazendo uma análise “pela metade”. Este tipo de crítica, no final, serve apenas à manutenção do status quo. “Mostra-se” um “inimigo” inalcançável, um dragão de duas cabeças, impossível de combater e único elemento do problema.


Neoliberalismo e Globalização


Assim as idéias do Liberalismo inglês são “recuperadas” pelo Neoliberalismo no século XX, adaptando-as ao atual momento histórico. O regime político ideal é o que consegue neutralizar os sindicatos (ou qualquer outra forma de organização social popular) e diminuir a carga fiscal sobre os lucros e fortunas. Desta maneira o Neoliberalismo é a forma de pensamento político e econômico que mais se afina com a Globalização. A organização da economia deve (para os neoliberais) “ficar aos cuidados” das grandes empresas transnacionais (que, agora, controlam o mercado de mercadorias e de serviços).
Tudo principia em 1944 quando o austríaco Friedrich Hayek escreve um livro onde ataca as limitações do Estado diante dos mecanismos da economia. Suas idéias, no entanto, ficariam “na geladeira” até a primeira crise do petróleo (em 1973) quando então as idéias neoliberais começam a ganhar terreno. Hayek acusava o excessivo poder dos sindicatos e dos movimentos operários como responsáveis pela diminuição dos lucros das empresas e ainda pela pressão que faziam em relação ao Estado para que este aumentasse seus gastos em programas de assistência social.
Estes fatos estariam, na visão do austríaco, piorando ainda mais a situação instalada pela alta dos preços do petróleo. Hayek defendia a contenção dos gastos com bem-estar social – o que no limite significaria a liquidação do Estado de Bem-Estar Social europeu, fato que não se concretizou de todo - e a restauração de uma taxa de desemprego mais elevada (de modo a criar um “exército de reserva” de mão de obra) que possibilitaria a redução de salários e a diminuição do poder dos sindicatos.
Na década de 1980, o mundo vive então uma crise econômica (agravada pelas Crises do Petróleo, ocorridas em 1973 e 1979, que foram particularmente mais graves para a Europa e os países subdesenvolvidos – a crise demandou a alta dos juros, o que elevou as dívidas externas destes países, inclusive o Brasil - mas que pouco afetou os EUA, já que este país era pouco dependente de importações de petróleo e também por serem as maiores multinacionais petrolíferas, na maioria, norte-americanas, resultando em lucros que se voltavam para a economia estadunidense).
Na Inglaterra a primeira-ministra M. Thatcher inicia a “neoliberalizar” o país, à exemplo de Ronald Reagan nos EUA, através de uma série de projetos de privatizações de empresas. As décadas anteriores tinham sido um período de grande avanço técnico-científico e econômico. Agora ocorria uma crise. É necessário que se abram “novos mercados”, novos espaço para, em duas palavras, “ganhar dinheiro”. É o momento do novo despertar do Liberalismo, do surgimento real do Neoliberalismo. Assim, este “novo mundo globalizado” vai caracterizar-se por alguns aspectos:


a) A consolidação do poder mundial dos EUA (político, militar, econômico e cultural) – influenciando e interferindo nas políticas internas de muitos países (principalmente os do Terceiro Mundo), porém em um quadro de multipolaridade nas disputas por influência e poder. Assim alguns analistas consideram que neste novo quadro os Estados Unidos vem perdendo sua hegemonia econômica e, circunstancialmente, também política.
b) A globalização da economia e crescente poder das transnacionais.
c) A capacidade de intervenção/convencimento da Mídia (convencendo os indivíduos sobre o que “pensar” e sobre o que “comprar” [consumismo]), “trabalhando” para a homogenização da cultura da globalização. Assim vemos a Mídia, na maioria das vezes, atuando mais do que como um agente de informação e sim como provedor de idéias prontas.
d) O poder de organismos internacionais como o FMI, OMC e Banco Mundial [sob o comando dos EUA e demais países do G7 – Canadá, Reino Único, França, Alemanha, França e Japão] sobre as políticas dos países do Terceiro Mundo (os chamados países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento)
e) A consolidação do pensamento político neoliberal como “pensamento único”, ou seja, o Neoliberalismo passa a ser considerado como a forma derradeira (final) de política econômica.
f) Prática do livre mercado com a formação de BLOCOS ECONÔMICOS.


De fato, o que se verifica hoje é um conflito entre idéias plenamente globalizantes e os aspectos da regionalização também vigente (representada pela formação de blocos). Posto de outra forma: antagonizam-se os adeptos da globalização liberalizante e desejosos do livre comercio e, paralelamente, de praticas protecionistas nas politicas interna/externa dos blocos. O resultado da disputa, muitas vezes, tem sido canalizado para a OMC, porém o que temos de real é uma disputa onde quem tem mais poder leva vantagem. Por fim uma definição sintética de neoliberalismo pode ser acompanhada com o geógrafo norte-americano David Harvey:


“O neoliberalismo é uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos a propriedade privada, livres mercados e livre comércio. O papel do Estado é criar e preservar uma estrutura institucional apropriada a essas práticas. [...] As intervenções do Estado nos mercados devem ser mantidas num nível mínimo” (Harvey, 2008, p.12)


Claramente os Estados continuam, portanto, tendo óbvia importância para a realização do neoliberalismo no quadro das relações internacionais. São os Estados, ao final, que regulamentam a própria minimização de sua atuação nos mercados, mas que devem criar – ao mesmo tempo – as condições necessárias ao desenvolvimento do neoliberalismo. E, de qualquer modo, é aos Estados e seus governos que as grandes corporações transnacionais (ou globais) recorrem, via OMC, para a resolução de questões do mercado como, por exemplo, de países subdesenvolvidos que procuram salvaguardas suas economias nacionais criando barreiras aos produtos estrangeiros, colocando-se, na visão dos neoliberais, no “contra-fluxo” da globalização.


Bibliografia consultada:


Harvey, D. O Neoliberalismo: história e implicações. – São Paulo: Ed. Loyola, 2008.
Magnoli, Demétrio. Globalização: Estado Nacional e espaço mundial. – São Paulo: Ed. Moderna, 1997. Coleção Polêmica.
Sene, Eustáquio de & Moreira, J. C. Geografia: espaço geográfico e globalização. – São Paulo: Ed. Scipione, 1998.
Sader, Emir (org) e outros. Pós-Neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. – Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1995.
Magnoli, Demétrio. O mundo contemporâneo: relações internacionais 1945-2000. - São Paulo: Ed. Moderna, 2000.


Anexo:


1. KEYNESIANISMO (1933 – 1970)
• Tem origem a partir da crise de 1929
• Estado planejador
• Controle do câmbio (valor da moeda)
• Estado-governo intervêm na economia nacional
• Protecionismo
• Criação de empresas estatais (setores estratégicos: mineração, energia, transportes, comunicações)
• Criação de benefícios de seguridade social (seguro-desemprego)
• Fortes investimentos em projetos de infra-estrutura


2. CONFERÊNCIA DE BRETTON WOODS (1944)
• Ocorre após a 2ª Guerra, Plano Marshall (bilhões de US$ dos EUA > Europa).
• Acontece a expansão das empresas estadunidenses (EUA) pelo mundo. – Transnacionalização das empresas dos EUA (expansão das transnacionais). As empresas européias fariam o mesmo logo depois.
• EUA = maior potencia econômica, agrícola e militar do mundo. (70% de todo o ouro existente no mundo estão em cofres nos EUA)
• Objetivo: retomar o desenvolvimento e integrar a economia mundial, nos parâmetros dos EUA.
• Promover ajuda econômica para a Europa.
• São criados a partir de Bretton Woods: o FMI [EUA controla] e o Banco Mundial [Europa controla]. – Visando o financiamento da economia européia e mundial.
• É criado o GATT (que depois, em 1995, se tornaria a OMC) : Acordo Geral sobre tarifas aduaneiras e comércio)
• O dólar passa a ser a moeda de referencia no comércio mundial, lastreada no ouro (padrão dolár-ouro).
• Toma corpo na Europa o chamado Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State, ou seja, o Estado keynesiano.
• URSS fica de fora.


3. A Década de 1970 e as crises do petróleo:
• 1973 e 1979 = crises do petróleo.
• 1971 = EUA abandonam o padrão-ouro, desvalorizam a moeda e elevam os juros (fato este que realmente levaria à alta do preço do petróleo)
• Década de 1980 = crise econômica mundial. = alta dos juros, crescem as dívidas dos países subdesenvolvidos.
• EUA são menos afetados: menos dependentes do petróleo, e as maiores empresas petrolíferas eram (são) dos EUA. + fim do padrão ouro (1971-2) permite os EUA emitirem moeda sem lastro para o pagamento de contas.
• Ronald Reagan e Margaret Thatcher iniciam políticas neoliberais com uma onda de privatizações e de políticas de abertura econômica mundial (retomada do ideário do livre comércio), idéias que no inicio dos anos 1990 ficariam conhecidas como Consenso de Washington, isto é, neoliberalismo.
• Têm inicio a chamada globalização econômica.


4. Globalização econômica (neoliberal) – 1970.
• Doutrina econômica: neoliberalismo (Consenso de Washington)
• Internacionalização da produção (fragmentação ou desterritorialização da produção)
• Cresce o poder das transnacionais (de atuação desterritorializada ou multiterritorializada)
• Cresce o número de fusões (concentração econômica ou de capitais).
• Holdings-conglomerados (empresa controladora de várias firmas em diferentes setores) , cartéis (associação livre para o controle da competição e dos preços), trustes (agrupamento de empresas visando controlar todas as fases de produção, das matérias primas até a distribuição)
• Decresce o poder dos Estados/Governos. – Estados Fracos.
• Desregulamentação econômica (políticas neoliberais, Estado mínimo [ Estado/Governo não deve intervir na esfera econômica, não deve mais competir com as empresas privadas. Mas deve ser forte para manter a nova ordem econômica, favorecendo o capital privado ]
• Mundialização financeira ($ money-money 24 horas)
• Crescimento da especulação financeira.
• Avanços tecnológicos na área da produção, da produtividade, dos transportes e das comunicações (resultantes das corridas armamentista e espacial no âmbito da Guerra Fria)
• Fase de grande desenvolvimento tecnológico. (1970-1995 – internet, robótica, nanotecnologia)
• Aceleração dos processos (maior velocidade dos meios de produção, comunicação e informação).
• Fordismo é superado pelo Toyotismo (just-in-time).
• Idem: Terceira Revolução Industrial, Revolução Técnico-científica Informacional ou Globalização.
• Globalização é desigual, como sempre no capitalismo.
• Globalização afeta todos no mundo, mas nem todos tem acesso aos seus “benefícios”!
• Metade da população mundial tem renda baixa, é pobre ou miserável.
• EUA, Europa e Japão concentram a maior parte do comércio mundial, agora, com a intromissão da China... (p.ex.: é hoje o maior mercado consumidor de automóveis do mundo!)
• 1989-1991: Queda do muro de Berlim e fim da URSS. = EUA única potência (hegemonia) – política, econômica (?), financeira (?), militar (!).
• A partir dos anos 1970 começa o crescimento da China (10% a.a.), até tornar-se o que é hoje.
• China: competição econômica com os EUA no início do século XXI. – De que lado ficará a Europa?

GLOBALIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE

José de Sena Pereira Jr.

Abertura de mercados ao comércio internacional, migração de capitais, uniformização e expansão tecnológica, tudo isso, capitaneado por uma frenética expansão dos meios de comunicação, parecem ser forças incontroláveis a mudar hábitos e conceitos, procedimentos e instituições. Nosso mundo aparenta estar cada vez menor, mais restrito, com todos os seus cantos explorados e expostos à curiosidade e à ação humana. É a globalização em seu sentido mais amplo, cujos reflexos se fazem sentir nos aspectos mais diversos de nossa vida. As circunstâncias atuais parecem indicar que a globalização da economia, com todas as suas conseqüências sociais e culturais, é um fenômeno que, no mínimo, irá durar. O fim da bipolaridade ideológica no cenário internacional, a saturação dos mercados dos países mais ricos e a ação dos meios de comunicação, aliados a um crescente fortalecimento do poder das corporações e inversa redução do poder estatal (pelo menos nos países que não constituem potências de primeira ordem) são apenas alguns dos fatores que permitem esse prognóstico. O meio ambiente, em todos os seus componentes, tem sido e continuará cada vez mais sendo afetado pelo processo de globalização da economia. Os impactos da globalização da economia sobre o meio ambiente decorrem principalmente de seus efeitos sobre os sistemas produtivos e sobre os hábitos de consumo das populações. Alguns desses efeitos têm sido negativos e outros, positivos.
Está havendo claramente uma redistribuição das funções econômicas no mundo. Um mesmo produto final é feito com materiais, peças e componentes produzidos em várias partes do planeta. Produzem-se os componentes onde os custos são mais adequados. E os fatores que implicam os custos de produção incluem as exigências ambientais do país em que está instalada a fábrica. Este fato tem provocado em muitos casos um processo de "migração" industrial. Indústrias são rapidamente montadas em locais onde fatores como disponibilidade de mão-de-obra, salários, impostos, facilidades de transporte e exigências ambientais, entre outros, permitem a otimização de custos. Como a produção de componentes é feita em escala global, alimentando indústrias de montagem em várias partes do mundo, pequenas variações de custos produzem, no final, notáveis resultados financeiros.
O processo de migração industrial, envolvendo fábricas de componentes e materiais básicos, pode ser notado facilmente nos países do Sudeste Asiático e, mais recentemente, na América Latina. São conhecidas as preocupações dos sindicatos norte-americanos com a mudança de plantas industriais - notadamente da indústria química - para a margem sul do Rio Grande. O fortalecimento da siderurgia brasileira, além, é claro, de favoráveis condições de disponibilidade de matéria-prima, pode ser, em parte, creditado a esse fenômeno.
Há uma clara tendência, na economia mundial, de concentrar-se nos países mais desenvolvidos atividades mais ligadas ao desenvolvimento de tecnologias, à engenharia de produtos e à comercialização. Por outro lado, a atividade de produção, mesmo com níveis altos de automação, tenderá a concentrar-se nos países menos desenvolvidos, onde são mais baratos a mão-de-obra e o solo e são contornadas, com menores custos, as exigências de proteção ao meio ambiente.
Essa tendência poderá mascarar o cumprimento de metas de redução da produção de gases decorrentes da queima de combustíveis fósseis, agravadores do "efeito estufa", pois a diminuição das emissões nos países mais ricos poderá ser anulada com o seu crescimento nos países em processo de industrialização.
Outro fator que tem exercido pressão negativa sobre o meio ambiente e que tem crescido com a globalização da economia é o comércio internacional de produtos naturais, como madeiras nobres e derivados de animais. Este comércio tem provocado sérios danos ao meio ambiente e colocado em risco a preservação de ecossistemas inteiros.
A existência de um mercado de dimensões globais, com poder aquisitivo elevado e gostos sofisticados, é responsável por boa parte do avanço da devastação das florestas tropicais e equatoriais na Malásia, Indonésia, África e, mais recentemente, na América do Sul. A tradicional medicina chinesa, em cuja clientela se incluem ricos de todo o mundo, estimula a caça de exemplares remanescentes de tigres, rinocerontes e outros animais em vias de extinção. Mercados globalizados facilitam o trânsito dessas mercadorias, cujos altos preços estimulam populações tradicionais a cometerem, inocentemente, crimes contra a natureza.
Na agricultura e na pecuária, a facilidade de importação e exportação pode levar ao uso, em países com legislação ambiental pouco restritiva ou fiscalização deficiente, de produtos químicos e técnicas lesivas ao meio ambiente, mas que proporcionam elevada produtividade a custos baixos. É o caso, por exemplo, de determinados agrotóxicos que, mesmo retirados de uso em países mais desenvolvidos, continuam a ser utilizados em países onde não existem sistemas eficientes de registro e controle. Os produtos agrícolas e pecuários fabricados graças a esses insumos irão concorrer deslealmente com a produção de outros países.
A medida mais eficaz para evitar ou minimizar os efeitos deletérios dessas e de outras conseqüências da globalização sobre o meio ambiente seria a adoção, por todos os países, de legislações ambientais com níveis equivalentes de exigências. O fortalecimento das instituições de meio ambiente, principalmente dos órgãos encarregados de implementar e manter o cumprimento das leis, é igualmente fundamental. Para isto, seriam necessárias, além de ações dos governos dos países em desenvolvimento, assistência econômica e técnica das nações mais ricas.
Estas são preocupações expressas em vários documentos, como a Agenda 21, resultante da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. No entanto, interesses econômicos imediatos, aliados ao grave problema do desemprego, que hoje assola boa parte do mundo, têm dificultado o avanço de acordos e ações efetivas nesse sentido.
A globalização da economia, pelo menos na fase de transição que impõe a todos os países, cria um contingente de mão-de-obra desativada, via eliminação de empregos em setores nos quais o país não consegue competir.
O estímulo à mecanização da agricultura, dispensando mão-de-obra, por outro lado, acelera o êxodo rural. Essa massa de excluídos do processo de integração da economia acaba por provocar grave degradação ambiental, principalmente no ambiente urbano, criando invasões de áreas não urbanizadas e favelas. A degradação do ambiente urbano - destruição de atributos naturais, poluição da água, perturbações da segurança e da saúde pública, prejuízos na estética urbana, etc.- resulta na perda da qualidade de vida, tanto dos novos como dos antigos moradores urbanos. O ressurgimento de epidemias e endemias supostas extintas é um dos ângulos mais visíveis desta questão.
Para uma transição menos traumática para uma economia globalizada, a sociedade deveria estar disposta e preparada para prover condições mínimas de subsistência aos que, provisória ou definitivamente, não se adaptassem às novas condições de acesso ao mercado de trabalho globalizado. Seria o preço a pagar pela tranqüilidade pública, por usufruir os benefícios materiais que a nova ordem econômica pode trazer àqueles mais aptos a obter os bens de consumo, o luxo, a comodidade e o conforto material que o sistema capitalista pode prover. Sem essa disposição da sociedade em dividir resultados, o meio ambiente como um todo sofrerá graves conseqüências, afetando profundamente nossas vidas e comprometendo o nosso futuro. Mas a globalização da economia oferece também perspectivas positivas para o meio ambiente. Até pouco tempo era comum a manutenção, até por empresas multinacionais, de tecnologias ultrapassadas em países mais pobres e com consumidores menos exigentes. A escala global de produção tem tornado desinteressante, sob o ponto de vista econômico, esta prática. É o caso, por exemplo, dos automóveis brasileiros. Enquanto a injeção eletrônica era equipamento comum na maior parte do mundo, por aqui fabricavam-se motores carburados, de baixa eficiência e com elevados índices de emissão de poluentes. Com a abertura do mercado brasileiro aos automóveis importados, ocorrida no início desta década, a indústria automobilística aqui instalada teve que se mover. Rapidamente, passou-se a utilizar os mesmos motores e os mesmos modelos de carrocerias usadas nos países de origem das montadoras. É claro que isto causou impacto sobre a indústria nacional de autopeças, pois uma grande quantidade de componentes, principalmente os mais ligados à eletrônica, passaram a ser importados, o que antes não era possível, dado o caráter fechado que até então dominava o nosso mercado interno.
Os efeitos sobre a emissão de poluentes dos veículos foi notável. Dados da CETESB e da ANFAVEA mostram que os automóveis fabricados em 1996 emitem cerca de um décimo da quantidade de poluentes que emitiam os modelos fabricados em meados da década de 80. Os efeitos não são ainda notados na qualidade do ar das grandes cidades, porque a maior parte da frota de veículos em circulação é antiga, com sistemas precários de regulagem de motores.
O mesmo efeito sentido na indústria automobilística estende-se a uma gama de outros produtos, como os eletrodomésticos. A globalização da produção industrial está levando à rápida substituição do CFC, em refrigeradores e aparelhos de ar condicionado, por gases que não afetam a camada de ozônio. Isto está ocorrendo em todos os países, pois não é interessante, economicamente, a manutenção de linhas de produção de artigos diferenciados de acordo com os países que os vão receber.
Outro efeito positivo da globalização da economia sobre o meio ambiente é a criação de uma indústria e de um mercado ligados à proteção e recuperação ambiental. Nesta lista incluem-se equipamentos de controle da poluição, sistemas de coleta, tratamento e reciclagem de resíduos sólidos e líquidos, inclusive lixo e esgoto urbanos, e novas técnicas de produção. São setores que movimentam fortes interesses econômicos, os quais acabam por influenciar os poderes públicos para que as leis ambientais sejam mais exigentes e haja instituições mais eficientes para torná-las efetivas.

Fonte: http://aacastro.tripod.com/globmamb.htm [in: 04/10/2010 21:00:52]




domingo, 19 de setembro de 2010

Sabedoria

Deus
Me dê forças para enfrentar as coisas que não podem ser mudadas,
coragem para mudar as que podem,
e sabedoria para distinguir uma da outra.

God
Give me strength to face the things that can not be changed,
courage to change those that may
and wisdom to distinguish one from another.



Dieu
Donnez-moi la force de faire face aux choses qui ne peuvent pas être modifiés,
courage de changer celles qui peuvent
et la sagesse de distinguer l'une de l'autre.



Dio
Dammi la forza per affrontare le cose che non possono essere cambiate,
coraggio di cambiare quelle che possono
e la saggezza di distinguere l'uno dall'altro.



Gott
Gib mir die Kraft, die Dinge, die nicht geändert werden können Gesicht,
Mut zu ändern, die möglicherweise
und die Weisheit, das eine vom anderen zu unterscheiden.



Dios
Dame fuerzas para enfrentar las cosas que no se puede cambiar,
valor para cambiar aquellas que pueden
y la sabiduría para distinguir unas de otras.

God

Give me strength to face what can not chance,
courage to change what can,
and the wisdom to distinguish one from another.

E então ?

" O que você vai fazer com o que você sabe ?"

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Planeta finito (II)

Por que parece tão difícil perceber a finitude dos recursos naturais da Terra e o quanto eles nos são essenciais? Todos querem saber até quando vai durar o petróleo. Mas e até quando vai durar o ferro e a bauxita? E o solo (tão degradado e desertificado)? Não é ele, também, um recurso não renovável? O que é mais importante: o petróleo ou o solo? Quando vamos parar de pensar a Terra como um recurso e passar a enxergá-la como aquilo que ela realmente é, o nosso (único e indispensável) habitat !?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Natureza

De algum modo pensamos, um dia, que estávamos dominando a natureza... Um grande engano! Jamais dominaremos a natureza - disse Freud (!). Somos parte dela e, assim, submetidos à Natureza.

1974 como hoje

" A gente as vezes têm vontade de ser,
um rio cheio prá poder transbordar;
uma explosão capaz de tudo romper,
um vendaval capaz de tudo arrasar... "

(do tema de abertura da novela "FOGO
SOBRE TERRA, TV Globo, 1974)

"Vamos nós !"

É o momento de retomar o trabalho. Sempre é tempo de começar de novo. O tempo não para...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Muito bom

2010. Finalmente adentramos o último ano da primeira década do século XXI. Vai ser muito bom!