quinta-feira, 14 de julho de 2011

hidrelétricas

Construir hidrelétricas?

 Orlando Albani

Para o pesquisador italiano Umberto Galimberti um dos problemas da atualidade (ou da modernidade) é o dissídio entre a técnica e a ética, entre o que se pode fazer (objeto da técnica) e o que se deve fazer (objeto da ética). A razão - técnica - só tem competência, conforme Galimberti, sobre o que se pode fazer; o problema está em "ver como se consegue impedir de fazer aquilo que é possível através da técnica", uma vez que, de acordo com o mesmo autor, "as técnicas exigem o seu uso". Galimberti é autor de Psiche e techne: o homem na idade da técnica (São Paulo: Paulus, 2006). Nesta obra Galimberti faz uma longa análise filosófica da técnica. O tema é importante, o que também foi salientado pelo geógrafo Milton Santos em seu livro "A natureza do espaço. Técnica e tempo, razão e emoção (São Paulo: Hucitec, 1997, v. cap.1): "O enfoque das técnicas pode tornar-se fundamental quando se trata de enfrentar essa questão escorregadia das relações entre o tempo e o espaço em geografia." Assim, sob vários aspectos, é fundamental que se pense a técnica. Na vida quotidiana atual existe certa banalização da técnica e das tecnologias de tão introduzidas que estão em nosso ambiente. Usamos as técnicas (e tecnologias) sem nenhuma reflexão a seu respeito (cf. Kosik, K. Dialética do concreto. São Paulo: Paz e Terra, 1995). Quando acionamos um interruptor de luz obviamente não pensamos na origem da eletricidade que estamos utilizando. Mas deveríamos. No caso do Brasil, cerca de 90% da eletricidade têm origem em hidrelétricas, obras que causam, como se sabe, grandes danos socioambientais, desde o desmatamento de grandes áreas de vegetação (a construção de apenas 3 usinas hidrelétricas na região amazônica, Santo Antônio, Jirau e Belo Monte, com o objetivo de produzir energia para a região sul-sudeste, em especial São Paulo, deverão causar a inundação de cerca de 93 mil hectares de floresta amazônica) até os deslocamentos compulsórios das populações ribeirinhas. Apesar da discussão em torno da implantação de barragens e grandes hidrelétricas ter aumentado bastante, ainda não é suficiente. Apesar de possível, seria realmente adequado construir barragens e hidrelétricas na Amazônia? Nossa civilização, que preza tanto a razão, terá pesado todas as possibilidades? Não seriam possíveis outras técnicas de geração de energia? Não existem alternativas para uma civilização capaz de levar um homem à Lua e que almeja em breve levar um até Marte? É realmente indispensável construir hidrelétricas na Amazônia? Ou mais uma vez as técnicas - e o poder do capital e do lucro - exigiram seu uso e ponto final?

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