Em que lugar colocamos a ética? Embaixo do tapete? Toda técnica, hoje, deriva, de algum modo, da ciência. As tecnologias são desdobramentos de produções científicas. Muitas vezes de uma produção paga por atores capitalistas que desejam uma nova técnica que maximize seus lucros ou que reduza a concorrência. Então vamos novamente para o nosso mantra: a ética deve intermediar o caminho do que é possível cientificamente para o que é possível tecnicamente. Ou seja: antes de um conhecimento tornar-se uma técnica, deve passar pelo crivo da ética. É como já disse (que disseram) aqui: "Se a ciência trata do que é [possível fazer], a ética tem por objeto o que deve ser [feito]" (ver: Ética econõmica e social. Arnsperger & Van Parijs. - SP: Loyola, 2003). Vamos colocar cada coisa no seu lugar.
sábado, 25 de julho de 2009
"A geografia não é uma ciência exata"
Li ou ouvi, só não sei mais dizer onde ou quando, que "a Geografia não é uma ciência exata". Claro que a geografia é uma ciência humana. Humana e física ao mesmo tempo. O humano e o físico são uma coisa só (sem nenhum determinismo). Não preciso repetir que história e espaço caminham juntos, porque muitos já o disseram. Mas a frase é de uma simplicidade fantástica e que vale ser lembrada, principalmente para aqueles que, como eu, teimam em colocar o humano na frente do físico.
A água que nos une é mesma que nos separa
Leio, por acaso, em Bachelard [A água e os sonhos. SP: Martins Fontes, 2002.] que "(...) a água ... ela une e desune...". Curioso, pois Milton Santos diz algo muito parecido, "o espaço que nos une é o mesmo que nos separa". Santos não escreveu exatamente assim, mas foi o que ele quiz fazer entender. O espaço une e desune. No caso da construção de barragens no Brasil, de fato, a água (dos rios) que unia as comunidades, acabou por ser o mesmo elemento que levou à sua separação (desterritorialização).
sábado, 27 de junho de 2009
"As técnicas exigem seu uso" e quem paga a conta é a floresta.
Para Umberto Galimberti, um dos problemas da atualidade (ou da modernidade) é o díssidio entre a técnica e a ética, entre o que se pode fazer (objeto da técnica) e o que se deve fazer (objeto da ética). A razão - técnica - só tem competência, diz Galimberti, sobre o que se pode fazer; o problema está em "ver como se consegue impedir de fazer aquilo que é possível através da técnica", uma vez que, de acordo com o mesmo autor, "as técnicas exigem o seu uso". Galimberti é um intelectual italiano, autor de Psiche e techne: o homem na idade da técnica. [tradução: José Maria de Almeida] – São Paulo: Paulus, 2006. Nesta obra Galimberti faz uma longa análise filosófica da técnica. O tema é importante, o que também foi salientado pelo geógrafo Milton Santos em seu livro "A natureza do espaço. Técnica e tempo, razão e emoção (São Paulo: Hucitec, 1997, v. cap.1): "O enfoque das técnicas pode tornar-se fundamental quando se trata de enfrentar essa questão escorregadia das relações entre o tempo e o espaço em geografia." Assim, sob vários aspectos, é fundamental que se pense a técnica. Na vida quotidiana atual existe uma certa banalização da técnica e das tecnologias de tão introduzidas que estão em nosso ambiente. Usamos as técnicas sem nenhuma reflexão a seu respeito (v. Kosik, K. Dialética do concreto. São Paulo: Paz e Terra, 1995). Quando acionamos o interruptor de luz da sala - especialmente no Brasil - obviamente não pensamos na origem da eletricidade que estamos utilizando. No caso do Brasil, cerca de 90% dela origina-se em hidrelétricas, obras que causam, como se sabe, grandes danos socioambientais, desde o desmatamento de grandes áreas de vegetação (a construção de apenas 3 usinas hidrelétricas na região amazônica, Santo Antônio, Jirau e Belo Monte, com o objetivo de suprir de energia a região sul-sudeste, em especial São Paulo, deverão requerer a inundação de cerca de 93 mil hectares de floresta) até os deslocamentos compulsórios das populações ribeirinhas. Apesar da discussão em torno da implantação de barragens e grandes hidrelétricaas ter aumentado bastante, ainda não é suficiente. Não seriam possíveis outras técnicas de geração de energia? Apesar de possível, seria realmente adequado construir barragens e hidrelétricas na Amazônia? Nossa civilização, que preza tanto a razão, terá pesado todas as possibilidades? Ou mais uma vez as técnicas - e o poder do capital - exigiram seu uso e ponto final? [OA2009]
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Se é geografia e se é crítica, então é Milton Santos. Assim vale lembrar o professor: "O espaço que, para o processo produtivo, une os homens, é o espaço que, por esse mesmo processo produtivo, os separa." (M. Santos, PENSANDO O ESPAÇO DO HOMEM. Edusp, 2004, p.33). Daí alguém já ter dito, poeticamente, que o espaço que nos une é o mesmo que nos separa. [OA, 2009]
Outra do prof. Milton Santos, para não esquecer: " [...] a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica. (...) As técnicas são um conjunto de meios (...) com os quais o homem (...) cria ESPAÇO. (v. A natureza do espaço. Hucitec, 1997, p.25)
Outra do prof. Milton Santos, para não esquecer: " [...] a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica. (...) As técnicas são um conjunto de meios (...) com os quais o homem (...) cria ESPAÇO. (v. A natureza do espaço. Hucitec, 1997, p.25)
Dominar a natureza
"O que os homens querem aprender da natureza é como empregá-la para dominar completamente a ela e aos homens. Nada mais importa." (v. Dialética do esclarecimento. Adorno & Horkheimer, 1985 [1947], p.18) Será?
Técnica e ética
A ética desvinculou-se da técnica. Aliás, bem mais correto, a técnica separou-se da ética. É pela ética que decidimos se devemos ou não realizar uma técnica. Não é papel nem da ciência, nem da técnica resolver tal questão. A ciência e a técnica são da ordem do fazer. É no campo da ética que se deve refletir sobre as razões para fazer ou não fazer alguma coisa. Assim, a solução dos problemas do presente não serão encontrados nem na ciência, nem na técnica, porque estas são totalitárias e hegemonizadas pelo poder oligopólico. A solução está na ética, na ética acima da ciência e da tecnologia. Vivemos a "idade da técnica" (v. U.Galimberti), separados da ética. Precisamos repensar nossas relações com a natureza e, sem dúvida, nossas próprias relações humanas. Os jornais noticiam que já são mais de 1 bilhão os desnutridos ou subnutridos do mundo, a maioria na África e na Ásia. Longe de nós? Nem tanto. A globalização não fez o mundo parecer menor? A África é aqui e a Ásia também. Não há falta de alimentos no mundo ou da possibilidade de produzi-los em quantidades suficientes para o dobro da população mundial. Mas sobra ganancia. Não se produz comida, somente commodities. "A gente não quer só comida", a gente quer um pouquinho de ética também ou, para ser bem sincero, um pouco de vergonha na cara. Estamos, novamente, a esperar que alguma nova técnica ou tecnologia venha para resolver os problemas ambientais, o aquecimento global, a fome... Estamos procurando no lugar errado, de novo. Não é a ciência e nem a tecnologia que vai resolver nossos tantos problemas.
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