terça-feira, 10 de maio de 2011

Geografia econômica


As Revoluções Industriais
por Orlando Albani

Uma série de inovações tecnológicas passam a ocorrer no século XVIII, mas 2 merecem ser destacadas: as máquinas modernas que substituíram o trabalho humano, mais rápidas e precisas e a utilização do vapor como fonte de energia para o acionamento das máquinas. Com a invenção da máquina a vapor o carvão se tornaria um mineral estratégico. Estas e outras inovações resultaram na grande transformação que foi a passagem de uma economia agrária e artesanal para outra dominada pela indústria fabril e o maquinismo, enfim, a Revolução Industrial que teve inicio na Inglaterra ao final do século XVIII (1760). Assim, desde 1760 o processo de fabricação de mercadorias já passou por 3 fases que denominamos de Primeira, Segunda e Terceira Revoluções Industriais.

PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
A Primeira Revolução Industrial (RI) tem relação direta com o capitalismo industrial (1760-1870). É nela que surgem as fábricas com máquinas movidas a vapor (o que exigia grandes quantidades de carvão mineral, minério no qual a Inglaterra [país em que se origina a RI e o capitalismo industrial] era rica) e o trabalho assalariado. Vale observar que a lenha ainda seria muito importante, mas que gradualmente perderia destaque tanto pela maior eficiência do carvão como fonte de energia calorífica como pela escassez progressiva da madeira nas ilhas britânicas.  
Deste fato se pode salientar o enorme impacto ambiental que a Revolução causou tanto para a vegetação das ilhas como para a atmosfera. Também vale lembrar que o Reino Unido possui uma área relativamente pequena, apenas cerca de 245.000 km² (Não se considera ai os 70.000 km² da Irlanda que fez parte do Reino Unido entre 1800 e 1949), portanto menor que o território atual do Rio Grande do Sul (cerca de 282.000 km²).
As fábricas agrupavam centenas de trabalhadores ocupados na produção em série de mercadorias. Institui-se uma divisão de classes: os capitalistas (donos de todos os meios de produção e de todo o lucro [ou todo o prejuízo]) e os trabalhadores assalariados (proletários). Surge uma nova sociedade: a sociedade industrial. Da Inglaterra estas transformações se estenderam, de forma desigual, para outros países da Europa continental.
Na Inglaterra a indústria do algodão foi fundamental. 90% da produção era exportada para as colônias inglesas. A maior parte do algodão das fabricas, contudo, saía do sul dos EUA que ainda utilizavam trabalho escravo. O mercado torna-se mundial e passa a integrar e relacionar todos os continentes. Novamente a Inglaterra tem a vantagem de ser uma potência naval com uma importante frota tanto comercial como bélica.
 Com a RI ocorre uma intensa migração para as cidades industriais e intensifica-se o processo de urbanização e o crescimento populacional. A Inglaterra, a “fábrica do mundo”, muito se beneficiou das relações coloniais tanto como mercados para seus produtos industrializados como para a obtenção de matérias-primas, sem esquecer a disponibilidade de carvão mineral em seu próprio solo.
Assim, a Primeira Revolução Industrial será caracterizada pelos seguintes aspectos principais:   
(a)  adoção rápida de inovações técnicas (fiandeira e tear mecânico);
(b)  aumento da produção e barateamento do preço das mercadorias;
(c)   separação entre capital e trabalho;
(d)  modo de produção capitalista;
(e)  predominância da energia fóssil (carvão mineral);
(f)    liberalismo como doutrina econômica;
(g)  concentração da produção em centros urbanos;
(h)  surgimento de um movimento sindicalista.

Obs.: As inovações técnicas também atingiriam o campo e aumentariam a produtividade agrícola, reduzindo a importância dos trabalhadores do campo que, sem trabalho, migravam para as cidades industriais.


SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1870-1970)
A primeira revolução industrial resultou em um intenso crescimento da produção mundial de mercadorias e matérias-primas. Em meados do século XIX, quando tem inicio a Segunda Revolução Industrial, a Inglaterra sofre com uma crise de superprodução. Depois, no final do século XIX, uma nova crise atinge diversos países industrializados (incluindo os EUA e a Alemanha) em função de uma queda continua e gradativa dos preços entre 1873 e 1896 (conhecida como A Grande Depressão). 
Assim, no final do século XIX, diante das crises, ocorreu um esforço para a criação de novas tecnologias que aumentassem os lucros, o que acabou ocasionando a Segunda Revolução Industrial a partir de 1870. Ocorreram avanços importantes especialmente no setor de transportes com navios e locomotivas a vapor tornando o transporte de mercadorias mais rápido. Outros avanços ocorreram, mas desta feita os países que lideraram esse processo foram a Alemanha e os Estados Unidos (EUA).
Ciência e capitalismo se unem no desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias que aumentassem a produção e auxiliassem o processo de acumulação de capital. [1] Considera-se ter sido a Alemanha que deu inicio à incorporação da ciência aos empreendimentos capitalistas. Destacam-se os avanços em quatro campos fundamentais: eletricidade, aço e concreto armado, petróleo e química e motor a explosão. A essa última invenção associa-se o desenvolvimento da indústria automobilística, que seria fundamental nas primeiras décadas do século XX (e na qual teria origem o fordismo).
Deste modo, a Segunda Revolução Industrial pode ser caracterizada pelos seguintes aspectos principais:
(a)  Ciência e Capital (capitalistas) unem-se em prol do desenvolvimento tecnológico (voltado para a obtenção de maiores lucros);
(b)  Produção concentrada em empresas cada vez maiores com a formação de trustes, cartéis  e holdings;
(c)   Fusão do capital industrial e do capital financeiro formando sociedades, originando o chamado Capitalismo Financeiro;
(d)  Papel crescente dos Bancos (agentes financiadores da produção) e das Bolsas de Valores (os fluxos [“exportações”] internacionais de capital passam a ter grande importância, diferentemente da Primeira Revolução Industrial onde a exportação de mercadorias era o mais importante)
(e)  As grandes empresas monopolistas dos países industrializados (daí essa fase do capitalismo também ser denominada de Capitalismo Financeiro e Monopolista[2]), associadas a Estados (que lhes davam garantias econômicas e, por vezes, militares), partem, no final do século XIX, para uma divisão dos mercados e, seqüencialmente, para uma nova partilha colonial, o IMPERIALISMO, que se materializou territorialmente na Congresso de Berlim (1885) e na partilha da África, empreendimento em que Inglaterra e França levaram clara vantagem sobre a Alemanha, sendo esse um dos fatores que levaram à Primeira Guerra Mundial.
(f)    Liberalismo econômico até 1933 quando desenvolve-se o Keynesianismo (que se torna a doutrina econômica da maioria dos países desenvolvidos até a década de 1970).
(g)  A partir de 1945 (com o final da segunda Guerra Mundial) ocorre uma transnacionalização da empresas (especialmente dos EUA) com a implantação de filiais de empresas norte-americanas (estadunidenses) em países da Europa e do Terceiro Mundo.
(h)  No inicio do século XX, a sociedade do automóvel e de consumo.


TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1970 ATÉ OS DIAS ATUAIS) ou REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA
A Terceira Revolução Industrial (RI) está associada à globalização econômica e financeira e ocorreu marcadamente a partir da segunda metade do século XX mas especialmente a partir da década de 1970. No período entre 1945 e 1970, no seio da guerra fria (EUA x URSS), diversas tecnologias – muitas delas tendo sido criadas no âmbito da corrida armamentista e espacial entre EUA e URSS – ganharam uso civil. São muitas as inovações tecnológicas que resultaram na Terceira Revolução Industrial e na chamada globalização: inovações nos setores farmacêutico e químico; novos fertilizantes agrícolas; aviões a jato; satélites; computadores; internet; telefonia celular, entre outras. Todas elas tiveram ampla difusão por todo o planeta.
O keynesianismo (Estado de Bem-estar Social) dá lugar ao Neoliberalismo, doutrina econômica hegemônica na atualidade na maioria dos países do mundo. A partir do Japão surge um novo tipo de organização do trabalho e da produção: o toyotismo (just-in-time, “primeiro vender para depois fabricar”, reduzindo custos e diminuindo estoques), que substituiria o fordismo da Segunda Revolução Industrial.
A expansão das multinacionais e a internacionalização da produção (fragmentação da produção), ocorrida a partir de 1945, ganha novo estímulo com os grandes avanços nas áreas de transportes, comunicação e transmissão de informações, em especial com o advento da internet. A partir dos anos 1970 e 1980 a localização das unidades produtivas (fábricas e montadoras) perde importância pelas facilidades (e barateamento) dos transportes e da comunicação. Surge o mercado efetivamente mundial, globalizado, que funciona 24 horas por dia. Há grande desenvolvimento nas áreas de robótica, biotecnologia e informática. Nas grandes indústrias high-tec a robotização é a norma. Ocorre uma nova onda de fusões e incorporações de empresas. As empresas tornam-se globais, de atuação planetária. É a globalização. Deve-se notar que se por um lado o desenvolvimento de novas tecnologias torna o trabalho mais produtivo e aumenta a produtividade, por outro pode causar desigualdades, aumento da pobreza e desemprego.
Alguns países subdesenvolvidos (especialmente na América Latina e Ásia) se industrializam e assim se constitui uma nova DIT (divisão internacional do trabalho). Muitos países, no entanto, tem uma industrialização dependente tecnologicamente, o que aumenta as desigualdades internas e externas. Nesta nova fase do processo de industrialização, e do capitalismo, a localização espacial das fábricas parece por vezes irrelevante e assim sua localização ocorre em função dos menores custos de produção. É assim que, na atualidade, mesmo empresas brasileiras estão se transferindo para a Ásia (China ou Índia)  e causando desemprego no Brasil.
Deste modo, a Terceira Revolução Industrial pode ser caracterizada pelos seguintes aspectos principais:
(a)  Grande desenvolvimento tecnológico (robótica, informática);
(b)  Barateamento dos transportes e da comunicação;
(c)   Transnacionalização e fragmentação (internacionalização) da produção de mercadorias;
(d)  Mercado global; Nova DIT;
(e)  Neoliberalismo;
(f)    Toyotismo;
(g)  Capitalismo financeiro globalizado; crescimento exponencial da especulação financeira (mundialização financeira). A especulação financeira parece tornar-se mais importante que a atividade produtiva. Todas as grandes empresas destinam grande quantidade de capital à especulação nas Bolsas de Valores de todo o mundo.

Por fim, não devemos deixar de ressaltar as crises que são relativas ao período entre 1970 e os dias atuais: as crises do petróleo (1973, 1979, 2007, 2011 (barril acima dos US$ 100,00) e a crise ecológica que se arrasta desde os anos 1980. Também convém lembrar-se da “questão” China (o 3° PIB mundial em 2010), cujo crescimento assombroso desde os anos 1990 vem, interessantemente, afetando/transformando o mercado mundial. Mas esse já é um assunto para outro momento.



[1] Lembrar que o capitalismo é “um sistema econômico e social baseado na propriedade privada dos meios de produção (terras, máquinas e outros equipamento indispensável para a fabricação de mercadorias) e na organização da produção visando o lucro e empregando trabalho assalariado.
[2] Apesar dos Estados serem liberais. As empresas capitalistas são monopolistas pois é a situação mais vantajosa possível, isto é, dominar completamente um mercado. Contudo seus Estados (os países em que tais empresas têm sede) devem ser liberais e promover o “livre-comércio”, isto é,  devem trabalhar (inclusive por meio da guerra se necessário) para que empresas de outros países não obtenha monopólios.

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